Revista da Academia Paraense de Letras 1961
.. .. vo": " ... nada é antigo nem moderno; há simplesmente a arte ou a poesia. A forma de expressão - a linguagem, em uma palavra, - é uma espécie de acidente ou uma ;preferên– cia ou uma estesia. Se nessa forma, ainda que extravagante, há comunicação com o mundo exterior, há ambiência emocio– !lal, a arte está realizada" Na recepção que a Academia fez em julho aos dois poe– tas mineiros que nos visitavam, tive ocasião de declarar, crua e rudemente, que só acreditava na Poesia Nua. E o reafirmo. Escolas, métodos, sistemas, formas, são meros acidentes, co– mo as vestes, roupagens que se usam de acôrdo com as modas. e os figurinos dos costureiros. Mas que ninguém me venha dizer que a roupa é que vale e não a pessoa que a veste, que resposta magnífica a tal concepção deu-a o imortal "poeta lagartixa", devolvendo à anfitriã que o convidara a uma fes– ta e lhe presenteara, a êle, habitualmente desleixado, o fato, dCOmpanhado de um bilhete: "Aí vai o Laurindo"•. Eu creio na Poesia Pura. Despida de qualquer restrição d-3 forma, igualmente bela, quer vestida ao sabor clássico ou romântico, quer ornada de roupagens parna.~ianas ou sim– bolista, quer os seus vestidos sejam antigos ou modernos. Em Amiel a poesia é um parto, "parce qu'elle est une li– herté". A Liberdade é condição essencial da Poesia. Contra ela até hoje nada puderam nem os sist emas, nem as formas , (ou as formas): nem as masmorras, nem as ti– ranias; nem as ditaduras, nem os fuzilamentos. Chenier continua vive, aquém da guilhotina da Revolu– ção Francesa e Lorca grita imortalidade, através do metra– lhar das balas que o abateram . E é nesta hora turva para o Mundo e para a Pátria, quan– do o Direito sossobra, a Justiça baqueia e a Verdade treme que eu quero proclamar minha Fé na Poesia, na Poesia sem peias, sem carcéres e sem medos, salvadora do Direito, soer– guedora da Justiça e encorajadora da Verdade, bandeira eter– namente drapejante de Beleza Eterna, de Verdade Eterna, de Bondade Eterna. Menotti del Picchia, deputado e poeta, em artigo em ':A Gazeta", de 14 de dezembro do ano pasadso , escrevia:-"Eu disse, certa vez, que sómente a poesia salvará o mundo. Fo– ram os gênios poéticos que criaram os grandes impérios e salvaram a humanidade na hora fatal dos colapsos. . . . . ~ . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tivessem nossos govêrnos mais poesia e não se entre– gariam a um calculado e catastrófico pessemismo, chegando mesmo a pensar em t ransformar o Brasil, que supera angus- - 85 -
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