Revista da Academia Paraense de Letras 1961
parto e a criatura que nasce deve forçosamente trazer os traços de semelhança dos p rogenitores: o Poeta e a Poesia. Quando aparecem os monstros ou os natimortos, é que o Pai não era Poeta ou, se o era, não casou com a Poesia. Não sei explicar a Poesia. Nem jamais o tentarei. Justa– mente porque Eterna. E porque -Pura. Adolfo Casais Mon– teiro, em Copyright para as FOLHAS, estuda o MISTÉRIO DA POESIA, e afirma a parágrafos e tantos: " ... pretender "ex– plicar" a poesia é reduzí-la a um plano determinado e restrin– gir êsse absoluto que ela é a um relativo, a uma aproximação que só deixam nas mãos do explicador farrapos do seu manto de astros". Eu creio na Poesia. Na Poesia Eterna. E na Poesia Pura. Creio na Poesia, porque creio em Deus. E porque creio em Deus é que creio na eternidade da Poesia, na eternidade da Poesia, ~m toda a acepção do termo. Na sua eternidade metafísica. E é com êsse conceito de eternidade que acho por demais modesta, depois de ter afirmado o Absoluto da Poesia, a conceituação de "sem-termo" com que Casais Monteiro encara a Poesia Eterna: "As idéias, os sistemas, as religiões passaram, sem que pasassse a Poesia ... " (loc. cit.). Eu vejo na Eternidade da Poesia o "sem-termo" e mais o "sem-princípio". Deus, quando quís escrever o seu Poema, criou o mundo. Cinzelou estrofes nos penhaços. Cantou versos pela gorja dos passarinhos. Engastou rimas nas folhagens sussurrantes. Acendeu ódes pelos espaços sidereos. Cantou h inos nas au– r oras e nos crepúsculos. Desatou epopéias no bojo dos oceâ– nos . .. E criou o homem, para que fosse o supremo interpré– te dos seus poemas . Deus é a síntese de tôda a Poesia, dessa Poesia que exis– te nêle ab aeterno, desta Poesia que êle transformou no poê– ma da Criação, como maravilhosa operação ad extra e que volverá a êle na imortalidade da alma humana ,a quem foi dado declamar o Poêma Divino. Eu creio na Poesia. Na Poesia Eterna. E na Poesia Pura. No discurso com que entrei para a Academia Pernambucana <.le Letras, bosqueiando minhas atividades literárias, afirmei que de vez em quando, bissextamente, por desfastio, fazia uns versos, "que eu nunca soube se eram parnasianos ou simbolis– tas, antigos ou modernos ; nem mesmo se eram versos, porque eu nunca entendi êsses n egócios de escolas poéticas. Acho que a Poesia só tem um nome: é Poesia mesmo. E que o Poeta só é ver dadeiramente tal, quando é poeta só, sem sobrenome". Nilo Pereira, um dos mais belos ornamentos e uma das mais fortes expressões da nova geração de intelectuais de Per– nambuco, escrevia em "A Folha da Manhã", de 4 de feve– r eiro do ano passado, sob o epígrafe "Arte moderna e O po- - 84 - . ..
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