Revista da Academia Paraense de Letras 1961
si. Êle não desertou o seu ideal. E' com prazer que hoje vol– tamos para junto de Bruno de Menezes a fim de beber o vi– nho de sua vitória. E vale a pena terminar, evocando uma recordação his– tórica. Num dos primeiros mêses do seu último govêrno, o ge– neral Magalhães Barata realizou uma visita, no palácio ar– quiepiscopal, a Dom Mário Vilas Bôas, o venerando antístite cuja palavra fluente e suave ainda vibra na saudade de to– dos os paraenses ; Bruno de Menezes participou, não sabe– mos se por acidente, do encontro entre as duas altas perso– nalidades. _A hora _da desp~dida , p~rgl!ntou ao general o ar– cebispo se conhecia bem o poeta que ali estava, escondendo o tamanho debaixo de uma cabeleira de prata. Respondeu que sim o governador, seu velho amigo. "Mas V. Excia. não ,sabe que êle . é sôgro de Cristo?!', perguntou o arcebispo. Aí Barata espantou-se. Era uma revelação acima de tôdas as ·expectativas. Sôgro de Cristo? E esta agora? (Note-se que, __i).quele tempo, Barata andava às voltas com um genro do general Lott, porque o simpático mancebo desejava projetar- .se na política do Estado e ameaçava devastar umas plantà– ções do PSD). Então, Dom Mário sorriu, com aquêle fino sorriso benevolente ,e explicou a Barata : "V. Excia. talvez não ignore que Bruno de Menezes tem dois filhos religiosos, um padre e uma freira, dos quais com justiça se orgulha. Se éles se casaram com a Igreja, para a qual vivem na plenitu– de de sua vocação, o poeta é sôgro de Cristo". O governador libertou o seu bom humor do rigor do protocolo e desfechou uma gargalhada sonora e cordial, como o velho palácio do Largo da Sé d_ev~ ter ouvido poucas vez~s. Mas dizem que, apesar de agnosbco em tudo, Barata dai por diante sempre olhou o poeta de esguêlha, com uma certa curiosidade, reser– vando-lhe por precauçao, um lugar de vereador na primeira eleição que se ferisse .. . A verdade já a proclamou alguém é que, t endo dedicados amigos na terra, para prover as 'SUas petições, e dois piedosos iritercessores a caminho da côrte celeste, para lhe garantir o futuro , festejado e admirado sem restrições, Bruno de Me– !lezes jamais se desviou de si pr óprio. E isto é notável so– bretudo no Brasil, onde o fato de um molusco ser sôgr~ ou genro de g;ente importante, lhe dá o direito de engulir um tambor de carnaval, para azucrinar todos os dias a paciência do próximo . ("Folha do Norte", de 7-12-60) . - 80 • ..
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