Revista da Academia Paraense de Letras 1961
.. .. - Bruno de Menezes Acadêmico SANTANA MARQUES A Academia Paraense de Letras entregou uma coroa de louros a Bruno de Menezes: foi o verdadeiro sentido da festa de ontem. Enquanto mediocremente uns completam quarenta anos num emprêgo, o poeta celebra brilhantemente os seus qua– renta anos de poesia. Não falamos de versos, nem de musas, que seria vulgar. Dizemos poesia, referindo-nos à extraor– dinária presença de uma sensibilidade na mais constante ma– nifestação do seu espírito, durante quase meio século. E' um fabuloso desperdício de inteligência e de desprendimento! Bertrand Russell julga que é tarado o homem que não faz o seu testamento e passa a viver_despreocupadamente o resto da vida, porque a morte não depende da nossa inquieta– ção; Bruno de Menezes vai além do filósofo inglês: sendo pobre e alegre como um pastor de ovelhas, êle nada tem para testar - os livros se;riam o patrimônio de sua gera– ção, os filhos são a abelha de uma colmeia a armazenar o mel para a comunidade fraterna . Deixemos, porém, que do poeta falem os entendidos. Nós nos confessamos incapazes de qualquer tentativa de classi– ficação do genero de Bruno de Menezes. Para a poesia te– .mos somente um pouco de sentimento. Somos aquêle labrêgo, . que foi ouvir um ser.mão, verdadeiro primor de arte literá- · ria, na Sexta-Feira da Paixão, e no final , quando todos se extasiavam diante da eloquência ·do pregador jesuíta, êle ape– nas chorou pelo desfecho : "E deixa-se matar um homem jus– to, e não há ninguém que varra aquêle arraial .a pauladas?" Aos seus quarenta anos de poesia, o poeta pode somar, pelo menos, trinta do nosso afeto. Nunca fomos íntimos, en– tretanto, eramas quase irmãos. Nós, talvez, o filho pródigo das letras, o que saiu a correr mundo e não mais deu notícias de - 79 -
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