Revista da Academia Paraense de Letras 1961
convívio, não deixaria de ter a íntima e profunda convicção de que, todo oficiante da Beleza e da Arte não deve permitir que na Axa do Ideal e da Fantasia esmoreça a chama perene para que, apesàr dos sacrifícios, possa êle confessar aos porvíndouros, como no "Triunfo Supremo", do amargurado Cruz e Souza : "E entre raios, pedradas e metralhas, Ficou gemendo, mas ficou sonhando!" Senhores acadêmicos : Quis a vossa desvancedora munificência, queridos confrades, que nesta hora encomiástica, fosse carinhosamente solenizado o trans– curso dêsses meus pálidos quarenta anos de tirocinio com a musas, desde o tímido lançamento do meu estreante hostiário de versos, "Crucifixo", que passaria despercebido, dada a obscuridade de seu autor. Era que, no deserto das ilu.sões primitivas, eu nada mais am– bicionava, nesse humilde anonimato do que poder aspirar como Omar Khayyam: "Um livro de Poesia à sombra da Ramada, Um pedaço de pão, a Urna de Vinho e a Amada, No Deserto a cantar a canção mais sonora . .. Muda-se em Paraíso o Deserto de outrora I" E assim, ao comemorardes, nesta festa magnifica, em que tão esplendorosamente se encontram a Poesia, a Música, o Oratória, e os desenhos folclóricos de Raimundo Viana, num coroamento enaltece– dor dos quarenta anos do meu artezanato literário, justo é assegu– rar-vos, como penhor, a confissão de que me s'nto saudavelmente emo– cionado e muitíssimo grato pelas manifestações de afeto e também pela presença de inslgnes vultos das a·rma.s nacionais, da administração governamental e do Município, da alta magistratura, do parlamento estadual e municipal, da importante representação do clero, de todos os que vieram trazer a êste ambiente o brilho de sua.s personalidades . Aos magnânimos ~orações amigos e às enobrecedoras saudações, ao preclaro Presidente dêste Templo da Sabedoria e aos bondosos con– frades só me resta ev'denciar a reverência do reconhecimento que me comove, por êstes momentos de imorredoura recordação rogando ao Senhor dos Mundos permitir a continuid2de desta exortação, em homenagem a todos o, Poetas corporificada no Soneto n . 7 da minha coletánea dos ONZES SONETOS: Canta, Poeta, ao verão do Sonho e da Beleza! Anuncia do Amor a Mensagem divinal Enaltece a Quimera! Ama com singeleza, a serena Ilusão que a Poesia ilumina! Olha a farsa do mundo: ao lírio que se inclina virg inal. é manchada a candura, a pureza! Se a glória resplendeu em rutila retina caminha, flama ao vento, com suprema realeza! ÉS a voz fraternal, o prometido Arco-íris da Paz e do Perdão . E, se acaso te vires mergulhado na dor, num exílio tristonho . Canta, ainda, iludindo a ti próprio, meu Poeta! E exalta no teu canto à Musa predileta, - "A mentira da vida e a verdade do sonho!" 78
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