Revista da Academia Paraense de Letras 1961
• .. .. .. tituiram minha neurose estética, desde a leitur.a do "Livro de Horas de Soror Dolorosa", de Guilherme de Almeida . Eis por que, nesses ONZE SOK·ETOS trovadorescos, com os quais, afeitamente, me inscrevi no Concurso das "Chaves de Ouro", patro– cina.do pela brilhante Academia de Letras de Ilhéus, atualmente sob a pre.s!dência do mavioso poeta Abel Pereira, é pos.3ível se constate, nessas produções literárias consoante os modos de ver dos ate3tantes, e numa diagnose retrospectiva, um puro estado de higidez poética, que me ficar.a dos poemas do cantor de "Messidor", muito mais sau– dável do que a pretensa vitalidade apregoada pelos admiradores do meu discutível expressionismo. Meus diletos amigos: Achando-me, de certo, altamente reconfortado com esta solene e cordi-al festa de Letras e Artes, com que a nossa vitoriosa Academia me confunde e honra, quando completo um ciclo de quarenta anos de literatura e de poesia, isto é, quatro decênios de peregrinação, não como Moisés, à procura da Terra Prometida, mas palmilhando, incer– tamente, ao léo do sonho e à mercê das minhas próprias limitações, as verêdas de rosas e de espinhos que conduzem ao Reino d,a Poesia, seja-me permitido declarar que, para receber tão cativante quanto elevada e nobre distinção, eu teria dilacer.ado a alma, na angustiante escalada que assim descrevo : ILUSÃO DA SUBIDA Poeta! Escala a montanha! Firma as g.arras Na crosta ardente! Sobe! Alça-te ao cimo! La no alto -aureo 1ilão refulge em barras e eu, que tentei subir já desanimo! Sobe! Galga e alcantil! Férreas amargas Parte e sobe ainda mais! Procur.a arrimo! Sobe! Encrava arpéus e cimitarras com fúria e fôrça sôbre a pedra e o limo! Firma os passos e sobe! Rompe a treva! Calca as urzes e os cardo,s da subida, bárbaro e rude na ânsia que te eleva! E do ápice abrangendo a cordilheira, sente a vertigem de subir, na vida, e rolar do alto em turvelins de poeira! E se, nesse quase meio século de proletarismo com as letras, pude sentir a promissora. espectativa de que não se alcança a Glória sem os prognósticos da Morte, não me diminuiria em confessar que, como o cetico Augusto dos Anjos, tive meus dias de revoltado ante as de– cepções e os desenganos: "E erguendo os gládios e brandindo as hastas, No desespêro dos iconoclastas, Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos" . Admitido por generoso consenso, nesta Ilustre Companhi-a, ao to– mar posse em abril de 1944, na Poltrona, n . 32 sob o patrocinio do ma– logrado vate Natividade Lima, embora estimulado por êste elevado 77
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