Revista da Academia Paraense de Letras 1961

suras dos alexandrinos clássicos, as vírgulas corret-amente colocadas, eu fôra um dos autênticos bardos suburbanos, sempre românticamen– te ena.morado, como os que circulam nas páginas de Lima Barreto, o recalcado escritor mulato de quem Francisco de Assis Barbosa reviveu a existência dolorosamente sofrida. Seguindo essa cronologia sentimental, irremediàvelmente tomado pelo virus de uma elementar literatura e de uma poesia doentiamente passional, sem conselheiros nem orientadores, como se entrasse num período de convalescença daquela "intoxicação emotiva", encontrei o que, para mim seria como um regenerador dos meus incipientes pen– dores literários de gráfico semi-letrado . Essa tonificação restauradora da "crise lírica" que me possuira, tive de aceitá -la, sob a tolerância de intimid-ade com os simbolistas francêses , portuguêses e brasileiros, em longas dissertações notur– nas, dadas pelo laureado bacharel José Leoni, medularmente im– pregnado, por sua vez, de uma .avassaladora admiração por Ma llarmé, Varlaine, Rainbaud, Antonio Nobre, Eugênio de Castro, Alfonsus de Guimar ães, Cruz e Souza . Há casos clínicos em que o enfêrmo não morre da doença e sim· do tratamento . Mas o fato positivo é que, submetido à terapêutica· experimental do simbolismo, n ão fique ., como Ciranô, "enluvado de chumbo", e continuei a me debater entre macis3as doses de Cesario Verde, Eduardo Guimar ães, Flexa Ribeiro, n a Costa e Silva, Celso– P inheiro, todo contaminado por êstes cultivadores dos alegóricos sím– bolos . Fui, assim, quase delirando, lançado num doido "bailado lunar", e a seguir, num estranho "batuque", com maribondos no corpo das · ne– gras, a "oração da cabra preta" nos rastros das crioulas, fumo de liam– ba, cachaça imaculada, povoando-me de vi.sões de terreiros, com "pais de santo" atuados e voduns desperiteadas, até cair nos braços da "lua sonâmbula" . Nessa febricitante descida para o populá rio e para -as raízes te– lúricas de uma brasilidade expressional, como é ent ernecedor recor– dar o nosso grupo, com Abguar Bastos, Paulo de Oliveira, De Campos Ribeiro, Jacques Flôres, Nuno Vieira, Muniz Barret o, Sandoval Lage, Clovis de Gusmão, Orlando de Moraes, Lindolfo Mesquita, Ribeiro de Castro, e êsses r esignados sonhadores que for-am Hernani Vieira e Antônio Tavernard, que se não farandulavam nas noitadas estróinas de nosso clã, a êste est avam ligados por uma imaterial r enúncia . Havia, porém , de r est a r em mim uns resíduos latentes, do quan– to eu absorvera de parnasianismo e penumbrismo, de simbolismo e de "modernismo", os primeiros no meu "passadismo" tão do agrado de– Eustaquio de Azevedo, de Elmano Queiroz, de José Simões, de Hormino Pinheiro, de Tomaz .Nunes, de Osvaldo Viana, de Manuel Lobato de Paulo Mar anhão, de Apoliná rio Moreira, de Julie Col2.res, meus c;íti– cos .amáveis na preferência da poesia que enternece a alma e enleva· os corações . Porisso é que hoje, amigos e confrade,, como Jura.ndir Bezerra Rui Barata, Georgenor Franco, Alonso Rocha, reconhecem que eu'. não haveria de fugir ao neosimbol ismo, r eincidindo mesmo nessa "doença emocional", para poder chegar ás reali:z,ações dos ONZE SO– NETOS, dos quais o nosso augusto Príncipe dos Poetas Brasileiros Guilherme de Almeida, fizera as "chaves de segrêdo", reservando-as' para com elas ser aberta a "torre de marfim" dos treze versos com~ plementares, dos "sonetos que não foram escritos" . Quero, pois acredit ar que tudo quanto eu "padecera de liter atura" n ão teria encontra do a medicação essencialment e adequada não m~ houvesse eu r etemperado através de t antos doseamentos de' comple– 'ICa poesia, do cr ônico lirismo e do eclético pa rn~ianismo, que cons-, 76 • ,..

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