Revista da Academia Paraense de Letras 1961

E não foi em livro que li e decorei a maioria citada. Foi na cole– ção completa de BELÉM NOVA, a famosa revista que criaste . Foi lendo e relendo suas páginas - ctui entre os 15 e 25 -ancs de idade um devorador de revistas e livros de escritores regionais - que entrei em contacto com os valores autenticos da nossa terra. Hoje, gasto o meu tempo, o pouco que me resta das obrigações profissionais a cumprir, lendo o livro da alma de meus filhos, para compreende-los intima– mente e orienta-los no bom caminho do dever . E .julgo que tenho aprendido muita coisa com a vivacidade de Géo e de Maria de Betânia, cada qual com um temperamento, cada qual com uma maneira de encarar a vida e as coisas, mas ambos com elevados sentimentos hu– manos e uma fortaleza de alma impressionante diante do materialis– mo dos dias que passam. E aqui estou, meu irmão, p.ara cumprir com a honrosa missão, comungando da alegria espiritual que te invade a alma, rasgando es– trelas de emoção no luar do teu destino de poeta glorificado . * * * Meus senhores, Bruno de M;enezes nasceu 33 anos depois de Gonçalves Dias, "o próprio gênio da poesia nacional", na afirmativa de Tavares Bastos, ter subido o caudaloso Rio Amazonas, a bordo do navio de rodas Manaus recem construido na Inglaterra para a Companh a de Nave– gação e' Comércio do Amazonas, que o espirita din-amico do Barão de Mauá dirigia com patriotismo e visão. Bruno de Menezes nasceu a 21 de março de 1894, numa noite quieta da mansidão tropical, que o cantor imortal de "Os Timbiras" descreveu em carta a Henrique Leal, exclamando, deslumbrado: "Aqui, quer ap clarão da lua, quer ao remansear de uma noite serena dos tropices, respira-se às lar– gas, em ondas, a plenos pulmões, como se t :: da a atmosfera não bas– tasse para satisfazer à sêde do olfato, que se de :;perta sôfrega, que é poesia ainda, que se converte em amor! - amor per todos quantos respiram sob êste céu -abençoado e cujos peito.s se alguns tendes perto, arfam acordes convosco num sentimento invisivel de amor da Pátria e de benevolência rec;proca" . Bruno de Menezes teve infância de menino pobre, filho de uma lavadeira e de um mestre de obras . Fez seus estudos primários com a prof . Gregoria Leão de Matos e depois, até o 5. 0 ano, estudou no Grupo Escolar José Verissimo . Dai por diante, frequentou colégios noturnos, enlfrentando dificuldades, conhecendo as miséria.s e os es– plendores da vida . M;eio adolescente, foi aprendiz de gráfico dedi– cando-se ao serviço de encadernação, na Livraria Moderna cio sau– doso Sabino Silva . Depois, semi-operário, foi ter à Livraria Gilet até se firmar na Livraria Bittencourt, já feito mestre. Deixou definitiva– mente os serviços de livraria, em 1918, sob -a influência de idéias anar– quistas, sentidas em "A Catedral", de Blaseo Ibanês . Não foi sempre rosea a sua vida de gráfico, como sem resas mas com muitos espinhos foi .a sua inlfância . Tó Teixeira ai está vivo para dizer dos castigos que eram impostos a êle e a Bruno por Mancel Costa, da escola antiga . Nos seus tempos de cperário gráfico teve os seus tipos inesqueciveis e foram Farias Gama, Abilio Franco e Ma– noel Costa, já citado. Lutando contra o meio, jovem de ideias avançadas e à época pe– rigosas, fa~e~d? das fraquezas fcrças e do seu ideal a arma capaz de derrot~r mn~1gos, Brur:o ~e Menezes, tomando conhecimento da absorçao .do s1ste~a cap1tallsta, voltou-se para a imprensa proletária daquela epoca . Foi certamente quando lhe veiu a inspiração o soneto 66

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