Revista da Academia Paraense de Letras 1961
-- ► .. Discurso de Posse do Academico Murilo Menezes (24 ABRU, 1948) Senhores: CONTA uma antiga lenda celta, que nos ,arredores da Capital da Gran Bretanha, existiu há muitos anos, uma família de artífices, en– tre os quais havia um jovem de nome Victor, a quem as _condições humildes de seus genitores não inibía de ter consigo uma grande ambição de saber. A pobreza, porém, e a falta de amparo de um protetor poderoso, eram obstáculos intransponíveis que cortavam sem remissão, todas as quimeras do humilde operário . E a realidade inexorável mostrando em torno dos seus, a exi– guidade de recursos, a .quasi miséria, faziam-no viver num ,> onho per– manente, numa atração irresistível. po1 tudo quanto era ilustre, pela vontade e pelo conhecimento, atração essa, que era igual a das mariposas para a luz . O seu grande ideal era ser nobre pela inteligência, e formar ao lado dos homens eminentes do seu país. Um dia, indo à capital imensa e magnifica, ficou deslumbrado ante a beleza arquitectonica de um palácio monumental. E indagou . Responderam-lhe que era a C~a do Parlamento de Inglaterra. E quando transitava pela cidade e ouvia o grande sino da torre bater as horas, parecia na sua cbcessão, que o som das badaladas pronunciavam dolentemente o seu nome, como um chamado e uma promessa, diluindo-se numa voz misteriosa, assim : "Tem sempre valor, oh' pequeno Victor, porque um dia has de ser, de Londres Cor– regedor" . . .que agitavam poeticamente a sua alucinação. E desde então, tinha como o seu maior desejo, sentar-se na ban– cada do Parlamento . Assim diz a lenda . Meus senhores : Tive um pouco da s aspirações desse sonhador. Sempre considerei esta casa como o cenaculo natural, para onde convergem as sumidades do saber na nossa terra. Sempre observei que os espíritos priv.ilegiados, que iam surgindo, procuravam neste tecto de dificil acesso, um albergue para os lam– pejos do seu idealismo . 61
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