Revista da Academia Paraense de Letras 1961
das complexidades da "Amazônia lendária", numa lingua– gem verbal rebuscada, dando surtos largos à imaginação. Aglutinando a paisagem a fatores sociais e econômicos, F·erreira de Castro abriu a picada até hoje procurada, com o seu famoso romance "Selva", de universalidade comprovada, traduzido em todos os idiomas existentes, marcando êste acon– t,ecimento literário um novo cíclo de interpretação da Ama– zônia . Todavia, correntes dispostas a desfazer o slogan de "in– ferno verde" , para dar lugar a uma literatura ufanista, incon- . sistente e abstrata, com o propósito de di~ulgar um outro re– trato da Planície, por me10 de quadros atraentes, lançaram seus manifestos em livros e monografias pretensamente ama– zonienses. Foi o caso de Alfredo Ladislau, de Raimundo Moraes, de Peregrino Junior, de Osvaldo Orico, e alguns mais, que pin– tando um regionalismo subjetiva e novelesco nas suas obras, trouxeram uma fisionomia sentimental para a Amazônia, com . usos , t ipos e costumes locais, enaltecendo a natureza, o aborí– gene, cuidando que assim desfaziam a mística de hostilidade ao comportamento humano nesse "inferno", transformando-o em paraiso equatorial. Não se logrou, porém, totalmente, este desígnio, porque, só depois do advento do modernismo, surgiram romancistas, ensaístas, historiográfos, que retomaram a clareira de Ferrei– ra de Castro, por outros processos literários, como Abguar Bastos, Dalcídio Jurandir, Alvaro Maia, Araujo Lima, Aurélio Pinheiro, Nunes Pereira, Gastão Cruls , Arthur C. Ferreira Reis, até mesmo outros menores , como Nélio Reis, Océlio Me– deiros, Sandoval Lage, agora se incorporando a êstes, João Viana. com "A Fazenda Aparecida", numa tarefa mais ope– r ativa e fidedígna , irmanando, realmente, nas suas peculiari– dades , a terra e o homem, como fez Rômulo Gallegos . Neste ambiente social, é que tentamos uma interpretação elementar dos impulsos para as belas artes em nosso meio, mal– grado os obstáculos decepcionantes, não fôra o espírito de ab– negação e sacrifício, que abre cicatrizes heróicas nos homens nascidos com o estígma da literatura na Amazônia. Torna– se imperativo asseverar que se em outras províncias êsses en– trechoques assumem proporções amargas, neste quadrante dos trópicos, fecundo e primário, avulta em tragédia atordoante, envolvendo as comunidades da hinterlândia . Eis porque, como ressaltou a comissão julgadora de "A Fazenda Aparecida", sendo este livro um depoimento e uma crítica, acham-se nêle palpitantes e verídicas, as qualidades de observador, participante da vida rústica do homem marajoara, - 59 -
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