Revista da Academia Paraense de Letras 1961
Sabe-se que nessa aliura escrevera o "Caetés", por longo tempo inédito, e que , ao ser publicado no Rio, teve am;pla re– ceptividade da crítica, que em certa análise admitiu influên– cias de Eça de Queiroz no romance, apesar de Graciliano, a essa época, não ter familiaridade com a obra do escritor por– tuguês. Notabilizado como um dos mestres dos romancistas mo– dernos brasileiros, Graciliano Ramos , em 1935, não escapou às artimanhas da polícia-política, sendo preso como suspei– to de participar do mov1mentto moscovita, passando dias 8.margos no cárcere, embora já fôsse o festejado autor de "São Bernardo", que trouxera alguma coisa de invulgar para a literatura nacional . -0- Seria de suspeitar-se que êste perfil biográfico do autor de "Vidas Sêcas", trágica narrativa novelística das estiagens do nordeste e da penúria dos flagelados migradores, tenha sin– tonia com o bosquejo da saudação ao novo eleito das letras, que acaba de receber a láurea da imortalidade neste Cenáculo do Espírito e das Artes. Se assim acontece, quís nos parecer, que na batalha pela sobrevivência, desde a infância agitada e desanimadora, e na predestinação para const antes adv~rsidades, que mais enfi– bram certos homens para a luta, os asperos caminhos de Gra– ciliano marcaram a mesma trilha marginal que João Viana palmilharia até a última encruzilhada. Pelo menos, em situações um tanto semelhantes, o escri– tor de "A Fazenda Aparecida" , nã.o esconde a confissão memo– rialística da vivência de seus verdes anos, como José Lins do Rêgo, quando João Viana conta que foi menino vendedor de doces, nas t uas poeirentas de Cachoeira, no Ararí; que em pe-. queno, tinh a de ir buscar leite, na Fazenda Curral do Meio, atravessando, pela madrugada, as matas escuras e malassom– bradas de Açú, para poder chegar ainda com o alvorescer à cidade. Em rememorativa coincidência, de pobres labores infan– tís, vêma-lo, desde cedo, integrado na paisagem lacustre do Ararí marajoara , feito menino "cadête", vigilante à proa das m0nta.rias, enregelado e prestativo; encontrámo-lo na ativida– de de caixeiro de taberna, na sua nativa Cachoeira, curioso dos tipos oue bebericavam, enquanto uma velha gramática 0 atraia à leitura furtiva. Adolescente criado à solta, deparámo-lo nos bailaricos da libertina Rua das Palhas, cujo nome está a dizer dos seus ca– sébres primitivos, propícios ao amor clandestino, tocando um violino manhoso, compondo chulas manimolente·s; acampa- - 56 -
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