Revista da Academia Paraense de Letras 1961

.. l r. que os afanosos dias vividos no "Jornal do Comércio" e na "Folha do Norte", nos revelaram sobejamente. Praticava o jornalismo como direção do espírito. Sentia-lhe o alto valor educativo e procurava imprimir na sua atividade normas de ética que tanto elevam o conceito profissional como dignifi– cam essa notável invenção do homem. Na fase de sua vida em que os sonhos adejavam pelos horizontes ilimitados da fantasia, João Alfredo de Mendon– ça, rítmou, também, a linguagem harmoniosa dos versos, e as rimas que escreveu nos -revelam o fogo da sua ardente ima– ginação deslumbrada pelas belezas e pelos mistérios da na– tureza tropical, cantada intensamente nas cordas sensíveis da sublime arte de Petrarca. A última vez que lhe falei , foi no Hospital da Santa Casa, na coincidência de uma visita ao nosso saudoso e comum amigo Adalberto Raynero Maroja. Levava em minha com– panhia um filhinho que , ao pararmos em frente ao quarto em que repousava o enfermo, procurou logo mexer em certa má– quina que estacionava junto à porta . Um "psiu" énérgico evitou a peraltice . João Alfredo interpelou-me: - E' seu filho? Ao que respondi: - Perfeitamente. - Vi logo - disse êle, fitando-me com um sorriso vito– rtoso. E afinal, sentenciou: - O avô é um pai muito mais generoso. "A FAZENDA APARECIDA" E O ENCONTRO REVELADOR Diz Viriato Corrêa, referindo-se à florada inicial dos es– critores, que "a primeira obra é, quase sempre, feita sem molde, sem figurinos e sem peias de escolas, sem vaidades, sem intenções (usemos uma expressão de gíria, que a gíria, às vêzes, tem expressões exatas), sem intenções de "abafar a banca". E' o autor na pureza de suas virtudes de inteli– gência, de sinceridade e de emoção". Com essa espontaneidade de sentimentos foi escrita a "A Fazenda Aparecida", livro que reflete bem, na poesia das cenas campestres, na inconstância dos veios d'água, nas vi– brações da alma cabocla, as virtudes e os defeitos do seu autor. atuando sempre ao ar livre, no descampado, mas fu– gindo aos remoinhos da retórica e à pirotécnica da erudição, para manter-se dentro da rusticidade dos temas no meio agreste em que foram expostos. Jamais alimentou qualquer preocupação de aparecer, porque a Academia, estou bem cer– to disso, faz-se, hoje, esta magnífica recepção, impulsionada - 53 -

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