Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Sàmente muito mais tarde, após sucessivos malôgros, é que se firmou o período florescente da Academia, sonhado ar– dentemente pelo nosso Patrono. Embora a idéia de fundação seja atribuída ao poeta Al– vares da Costa, ao patrono da Cadeira 23 , deve-se, entretanto, o preparo do caminho para sua realização. A úLTIMA SENTINELA O saudoso jornalista paraense, João Alfredo de Mendon– ça, foi a última sentinela que guardou a ·cadeira que recebo hoje enriquecida pelos frutos das boas sementes que espalhou neste recinto. Nascido nc interior do Estado, nessa admirável Fenícia paraense, que é o prós.i-ie.ro município de Abaetetuba, não teve, como se poderia pensar, berço de flores e rendas em que embalar a sua infân,.~ia. Seus ascendentes não dispunham de fartos recursos e muito cedo, premido pela necessidade, teve de procurar tra– balho em Belém, indo, então, aquecer, humildemente, a pa– nelinha de cola na encadernação da Imprensa Oficial, con– trariando os sonhos paternos que aspiravam por uma pro– fissão mais nobre que lhe suavizasse a luta nas árduas con– tingências da vida. A sua trajetória é a viagem tranquila de um espírito in– tegralmente formado e amadurecido no embate contra os tropeços e as desilusões que calejaram a sua existência. Fra– cassou, algumas vêzes, é certo, nas tentativas bem moureja– das, mas, como uma Fênix simbólica, ressurgia, sempre, im– pulsionado pelo coração e pelo cérebro, pelo amor e pelo es– pírito, atributos que foram sempre o traço predominante de . seu caráter. Há uma qualquer coisa de semelhança na luta íntima da sua vida de sofrimentos com a vida heróica de Humberto de Campos. E tanto o nosso antecessor pensava, também, dessa maneira que imaginou, escrever, como aquêle, as suas memórias, onde pudesse dar vazão às gratas remi– niscências e às amargas decepções; expandir a larga imagi– nação no bem que queria à sua terra, retratando-lhe as be– lezas, observando-lhe os costumes e bosquejando-lhe os ce– nários maravilhosos que tão bem sabia realçar. Apenas iniciara a n arração de tão ricos e interessantes episódios, a morte inexorável o alcançou fazendo cessar para sempre a pulsação dêssc coração bondoso que a índole da maldade jamais conseguiu perturbar na serenidade do seu caminho. João Alfredo de Mendonça era o jornalista penetrante, o intelectual primoroso e o homem de sensibilidade vibrante, - 52 - ---L J

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