Revista da Academia Paraense de Letras 1961

sigem com a honra e deixava-se dominar pela força poderosa da virilidade exigente, farejando , solertemente, a irmã, alu– cinado pela asp;.ração incestuosa. A página em que Marques de Carvalho dramatiza a tre• menda luta que a indecisão travava no íntimo daquele ho– mem mal educado, vale por uma consagração nos domínios da psicanálise freudiana. Tudo se passava num cenário vicejante, búcólico e sos– ;;egado, que Belém do século passado proporcionava aos seus felizes moradores. O largo da Trindade, "conservava-se paci– ficamente silencioso, com seu víri.de capim rasteiro sorridente ao sol, num ar de fazenda marajoára", onde os bois rumi– navam compassadamente, "deitados na frescura do chão, com as patas recolhidas sôbre o largo ventre penugento e palpi– tante". E' admirável a paixão dêsse paraense ilustre pelas cou– sas de sua terra, principalmente pelas de Marajó. Não obs– tante o verniz europeu de sua cultura, Marques de Carvalho, procurou quase sempre os seus motivos literários nos usos e costumes dos nossos caboclos, reproduzindo-os com habi– lidade e capricho, para deixar, em quem os lê, uma impres– são leve e duradoura dêsses suaves flagrantes da existência. E, quando introduziu um personagem gaulês, num de seus bonitos contos, o qual dedicou a José Veríssimo, foi para humilhar o estrangeiro nos seus brios de homem robusto, completo e valente, fazendo que Luiza, sua mulher, de ima– ginação criadora e ardente, fugisse "lânguida e sensual" para os braços rústicos de um ciclópico vaqueiro marajoára. A riqueza do seu estilo tem o condão de tornar os seus contos e romances sempre atualizados pela firmeza surpre– endente dos conceitos e a naturalidade que sabia imprimir aos pensamentos e paisagens que constituem o fundo vital das suas obras. O PIONEIRO DA ACADEMIA O Patrono da Cadeira 23 , não obstante ter cooperado na fundação da "Mina Literária" , em 1895, nunca se afeiçoou muito bem a essa sociedade que foi, por algum tempo, o ca– dinho em que se sublimava a intelectualidade guajarina. Talvez não gostasse do "modus operandis" daquela or– ganização, tanto que, em 1900, pelo que dizem 'as crô– nicas, êle lutava com afinco pela fundação da nossa Acade– rnia, idealizada anteriormente pelo poeta Alvares da Cosfa, não conseguindo realizar o seu intento em virtude da decidi– da reação dos "Mineiros", chefiados por Eustáquio de Aze– vedo. - 51 -

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