Revista da Academia Paraense de Letras 1961
Diz Manoel Lobato, uma das figuras marcantes de ho– mem de letras da Amazônia, referindo-se à atuação de Mar– ques de Carvalho, na "A Província do Pará", que: "Com a anuência absoluta do proprietário, imprimiu-lhe uma feição encantadora, que a tornou o jornal mais artístico do País, ao seu tempo. Regressava êle de uma de suas viagens a Paris, onde encomendara tipos escolhidos e resolvera moldar o jor– nal, que era seu pelo coração, pelo "Eco de Paris", fazendo questão que tôdas as secções fôssem subscritas, embora por pseudônimos". Além de jornalita desassombrado, João Marques de Car– valho exerceu as funções de Secretário da Legação de nosso corpo diplomático, Secretariou a Prefeitura Municipal de Be– lém e desempenhou o mandato de Deputado à primeira cons– tituinte do Estado. Versava, também, com primores de ex– pressão o romance, o conto, a poesia e a crítica. Expressava- 3e, em francês , com a mesma facilidade com que o fazia em sua própria língua ,e gostava de reunir, em agradáveis ter– túlias lítero-musicais, a família intelectual que o distínguia com sua amizade. A sua cultura polimorfa jamais o poderia subtrair às influências do naturalismo, do qual, como êle mesmo declara, se fêz porta-bandeira na Amazônia. Contemporâneo do no– tável Aloísio Azevedo, aswciou-se a êste no combate ao ve– lho romantismo, que se apoiava no subjetivismo mais senti– mental e desordenado, colocando todo o vigor do seu cálamo a serviço da nova escola realista de Zola, que buscava a as– piração suprema da verdade na forma refletida da arte. No estudo dos excertos de correspondência de Lisboa, enviada por Eduardo Martins a "A Província do Pará", foi que surpreendeu a dolorosa tregédia social que o levou a es– crever o seu magnifíco romance "Hortência", decalcado nos fatos verídicos observados nos acontecimentos da vida diá– ria daquela antiga metrópole. Movimentando suas personagens através do romance, Marques de Carvalho se agiganta nos estudos das mazelas sociais da época e cria com um vigor extraordinário a nédia mulata Horténcia, rescendendo a loendros e jasmins, com viço de terra fresca , na plenitude de sua beleza, e perfeição ue linhas que parecia, para servir-me de sua própria expres– são, "uma aristocracia inteira de formas naquele corpo de pobre rapariga do povo". Lourenço, mulato robusto, volutuoso, amigo da boa vi– da, dos dias inteiros passados na rêde, abraçado à viola, roído por sórdidos e intensos desejos, pensando na irmã, na idade dela. nas suas bonitas formas de virgem, com uma grande volúpia no fundo dos olhos. Seus sentimentos pouco tran- - 50 - j
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