Revista da Academia Paraense de Letras 1961
Talvez isto explique plenamente os redobrados anseios com que a humanidade inclinada nos ideais da sobrevivência, procura subsistir à sua última experiência imortalizando as perfeições do conhecimento que consegue realizar. Há duas formas pelas quais o homem fala de si mesmo: numa, êle desce pelas espirais ridículas do amor próprio, per– dendo-se em exteriorizações, a qual Nistzsche anatematiza co– mo egoísmo enfêrmo; e a outra, usada com desassombro e h eroísmo na revelação dos profundos exames de consciência, o homem eleva-se nas asas das sublimes virtudes até tocar aquela culminância de onde Humberto de Campos nas suas impressionantes "Memórias", pôde tocar de belezas tôdas as coisas, até mesmo as suas próprias imperfeições. Assim se pretende contar a história do trêfego vendedor de doces das ruas da velha Cachoeira, que escondia o ta:. buleiro entre os arbustos enquanto decidia uma partida n~ bola de sernambí, e, mais tarde, quando procurava pela do:– çaria, encontrava-a avermelhada de formigas de fogo; do pe– queno leiteiro que ia buscar o leite distante, na fazenda Cur– ral-do-Meio, atravessando, pelas madrugadas frias , as matas escuras e mal-assombradas do Açacu, para chegar cêdo à ci– dade: do "cadete" sentado à pôpa das montariazinhas dos pescadores , tiritando, congelado pela umidade da noite, des– cendo ao som das águas, para a festa piscatória que se ex– pande ruidosamente na poesia do "encontro"; do prosaicó caixeiro da taberna do Jorge MRnsur , na rua do antigo .Mer:.. cado, intercalando com a venda de aperitivos cuspinhantes, a leitura sôfrega da Gramática, que ocultava das vistas do sí– rio, sob o velho balcão de páu amarelo ; do antigo violinista da Rua das Palhas, que o talentoso conterrâneo Dalcídio Ju– randit evoca com tanta emoção nos conceitos que escreveu sôbre "A Fazenda Aparecida" , e que tão acentuadamente fi– zeram vibrar a mentalidade do autor ; do revisor da "Folha do Norte", moirejando nos plantões noturnos da turma do velho Scafi. Mais tarde, então, surge o comerciante, sem bossa, que as cir cunstâncias da luta improvisaram - essa luta pela vi:.. da que obriga a gente, no dizer de Jorge de Lima, a tratar com pessoas desagradáveis que gostaria de evitar. Cor rendo parelhas com essa nova atividade, ocorre, en– tão, a fundação de "Cachoeira - Nova", juntamente com Fla– viano Pereira e outros companheiros. Jornal de lutas e rei– vindicações que produziu apreciável contribuição no desenvol– vimen to daquele município marajoára. Na 'Cachoeira - Nova", os seus fundadores , como sempre acontece no interior, encampavam tôdas as atividades, desde a sua "pomposa " direção, até a entrega final ao leitor. Tra- - 48 -
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