Revista da Academia Paraense de Letras 1961

1 1 " Ao assomar a culminância desta tribuna acadêmica para pronunciar o discurso pragmático da minha recepção, muito me apraz reverenciar a brilhante inteligência da minha ter– ra, reunida nesta culta e distinta assembléia, repleta de be– nevolência, para ouvir as palavras dum neófito fascinado pelas belezas e deficiências da vida na ínsula marajoara, e que se sente, agora, esmagado pela grandiosidade dêste am– biente tão cheio de encantos e de gratas emoções. Pelas limitações naturais do meu conhecimento, nada me levaria à presunção de aspirar, um dia, tão generosa acolhida. Entretanto, a boa vontade dos votos que, espontâneamente, abriram as portas dêste Silogeu para me receber, não pode– ria deixar de produzir n a minha sensibilidade, por uma ra– zão muito humana, as vibrações de um contentamento que conforta e revigora a alma do escritor que construiu a sua vida, de baixo para cima, sozinho, conquistando palmo a pal– mo as posições, numa luta desigual e incerta, para a qual só dispunha do calor vivificante das chamas ·da fé . Devo, por isso, exculpar-me ante a bondade de Vossas Excelências, ao preferir, em pr imeiro lugar, falar de mim mesmo, o que não se poderá, talvez, increpar de falta de co– medimento, depois que a própria filosofia ensina que a maior dificuldade em ser modesto está na circunstância que dei– xamos de sê-lo desde o momento que por tal nos confessamos. Julga-se a imodéstia peculiar ao gênero humano, e, por isso mesmo, um dos povos mais experimentados da terra, não se desdour a em escrever com maiúscula a inicial da pessoa que fala. Hoeckel, na sua grandiosa perspectiva cosmológica, si– tua o homem como minúsculo grão de plasma, no meio da natureza orgânica passageira, e r efuta vigorosamente o delírio antropístico das grandezas, afirmando que o exagêro ilimi– tado de sua própria significação levou o homem, na sua vai– dade, a se considerar como a imagem de Deus, e a reivindica r para sua efêmera pessoa as glórias duma vida eterna. 47 -