Revista da Academia Paraense de Letras 1961
O homem, meus senhores, luta e sofre por causa de al– guém. Nenhum de nós faz algo se não houver alguém a quem entregar, a quem oferecer, . a quem legar. -0- Senhor Acadêmico Eldonor Lima: - Ao empossar-me na poltrona 38 nesta Academia, a 23 de agosto de 1946, 1para suceder a Osvaldo Orico, eu disse que trocaria o esplendor daquela noite inesquecível - são inesquecíveis as conquistas do nosso esforco e dos nossos ::.onhos - as glórias intelec– tuais passadas e futuras, até a honra da imortalidade, se, ao chegar em casa, encontrasse o vulto esguio de minha mãe, para me oferecer a sua Benção - Benção, que expressava confiança constante na vida, que era luz, estrêla, amor e Fé. Aquela altura e1:1 contava 25 anos de idade e dois séculos e meio de boêmia distinta e lírica, ao lado de meus diletos amigos Carlos Lima, Herrera Filho, Alvaro da Cunha, Alcí A.raujo e o saudoso Anaxagoras Barreiros, e não sei quantos anos de experiência e desenganos . Apesar disso, eu era, co– mo sou, um milionário do sonho, porque "deixar de iludir ,- se é deixar de viver" e mesmo. "um mundo novo de ilusões desperta em cada mundo de ilusões que morre ... " A propósito, ocorre-me à memória este belíssimo soneto de Wladimir Emanuel, poeta paraense laureado pela Casa de Machado de Assis ,em 1937, com o prêmio Olavo Bilac, pelo seu livro, até hoje inédito, "Pororóca". Escutemos: "Tem novo rosto a mascara de sonho, Dilui-se a antiga face da tristeza, E a chama de inquietude nalma acesa, é a última indecisão de que disponho. Sôbre ruínas de pranto, recomponho ~astelos de ótimismo e de beleza. Enevoam-se os olhos, de surpresa, a esperança dói mais do que suponho . Ensurdece, à distância, desvalida, a saga das tormentas e naufrágio, a amargura é uma tunica despida. Cumpre arquivar angustias, e esquecê-las. In augura-se o tempo sem pressagias Caminhemos no rumo das estrêlas" . - 44 -
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