Revista da Academia Paraense de Letras 1961

psicoanalitico de seu romance "Azar"', observamos um fato importante em seu livro , que está perfeitamente relacionado eom o modo de vida e o temperamento de seu autor - "que investido na nobilitante função de julgar o próximo na vara penal, sentia-se melhor quando absolvia do que quando con– denava ; porque o seu espírito profundamente humano, pen– dia sempre para a bondade" . E tanto isto é verdade e sin– cero, meus senhores, que o seu personagem Cirilo, do ro– mance, que a nosso ver Rainero Maroja, criou um assassino nato, congênito; porque na nossa modesta opinião, pelos es– tudos pisocoanaliticos que havemos feito dos homícidas, o criminoso traz vocação para o crime, assim como o compo– sitor traz vocação para a música. Dessa maneira, Círilo trouxe o germe do crime e o jpra– ticou duas vezes: a primeira, quando assassinou o pai da jovem que havia deshonrado, e, a segunda, quando matou Leonel, o filho do Coronel proprietário da fazenda , porque · enfilicitara sua irmã, a pobre Emília. E no entanto, o juiz, Rainero Maroj~, o absolve conscientemente, com a justifica– tiva de que Cirilo não era ~ cangaceiro, e que não herdou a maldade dos seus, e que não trouxe a ruindade da barriga da mãe. Mas pelo contrário, que Cirilo era um homem bom ·e pacato, e, que o "Coitado do rapaz foi mesmo esmagado pelo .-\zar. Fugia do azar como veado de cachorro. Mas tinha que cair. O Destino, diz Rainero, é como o marruá, não se torce, deixa-se ir aos boléos, lá um dia , chega-se-lhe a faca ao me– lhor, e êle entra no rêgo e obedece. O destino, não ; ninguém ., doma, não é bicho que se cape nem se pele". Assim foi o destino de Cirilo, que perseguido pelo negregado Azar, fizera– se assassino sem querer". E' como a mãe que põe ao mundo o seu filho mau, ruim e perfido, e no entanto, por ser mãe, justifica tôda maldade do seu filho, pelo seu destino e fatalidade , enfim, pela sua ~arte. Assim Rainero criou o seu Cirilo, com germe do cri– me, no entanto, depois que Cirilo cometeu o delito, o justi– fica pelo seu azar ; como se fosse possível ser a causa de todos os homícidios. E se nós não soubessemos, senhores , pelos es– .tudos da Psicoanalise, Criminologia, Psicologia e Endocrino– logia, que o criminoso é um doente, e que está sujeito, além de sua predisposição para o crime, a conflitos psíquicos e ao mau funcionamento de suas glândulas endocrinas. Observa-se no romance de Rainero , a luta sempre exis– tente entre ó "Inconscient e" e o "Consciente", entre o "Bem" e o "Mal" . O sub-conscinte do autor criou Cirilo, um ho– mem mau e perverso, e que justificava sempre o seu crime, para salvar a sua honra , e, o seu consciente, com a sua vál– vula "ce_nsora Super -Égo", sempre voltada para o bem, ten– dendo a absolvê-lo. 34 -

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