Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Tobias. E' a velha lenda, meus senhores, que se passa a re– produzir hereditariamente, desde que o mundo foi creado; o sacrifício de um, pela felicidade de muitos . E' o velho "Totemismo" , de que nos fala o mestre vie– nense Sigmundo Freud, em seu admirável livro: "Totem e Ta– bu". - Deus imolou seu próprio filho , dando-lhe o seu san– gue, em benefício da humanidade. Camilo da Anunciação, foi o "Totem" escolhido pelo "Clan" do professor Tobias, para servir de seu protetor e bemfeitor. E' esse "Totemismo", que ainda existe entre os povos selvagens da Austrália e entre outras tribus , e, que ainda existe entre os povos civilizados, 11aturalmente de uma maneira mais humana, de acôrdo com o nosso século e o nosso desenvolvimento intelectual e moral. Em o conto "O Imortal", Machado de Assis, apresenta uma narrativa, em que nos mostra o grande desejo incons– ciente, do homem tornar-se imortal ; mas no entanto, devido o seu "sent~mento de ambivalência", mostra-nos o Dr. Leão, depois de haver vivido muitos anos, conhecido gerações, en– tediado e aborrecido da vida, procura na morte o seu último repouso . O Dr. Leão, depois de haver recebido das mãos do seu sogro, o chefe indígena Pirajuá, o "elixir de longa vida" , ainda descrente, dizia consigo mesmo, se os homens não des– cobrir ão um dia a "Imortalidade e se o elixir científico não será esta mesma droga selvática?" Em seu conto "Viver", o autor de Dom Casmurro, num dialogo filosófico entre Prometheos e Ahasverus, revela-nos esse complexo problema da " Imortalidade" , chegando a con– clusão de que o homem está morrendo e ainda sonha com a vida" . Em o r omance "Elsa e Helena", de Gastão Cruls, que em nossa modesta opinião é o romance brasileiro mais profundo que já se publicou a respeito da "Dupla Personalidade", o autor descreve o desdobramento da personalidade de Elsa: Menina timida, bem comportada e estudiosa; enquanto He– lena, muito irriquieta e vadia, nunca se preocupava com as notas que lhe davam. Até nos gestos as duas se afastavam. Elsa não gostava de beber e de fumar; Helena já adorava o whisky e o cigarro . Elsa, a moça de sensualidade normal, e sem vícios e perversões, e Helena, a "sombra da outra", hi– persensual, fazendo com que sP-us amantes, o Dr. Assis, e seu cunhado o Dr. Maria e Paulino, o administrador da "Fa– zenda Esperança ", deixassem no seu belo corpo, o rastro de sua sensualidade, com a marca dos lábios viciosos e dedos em crispação; tinham luxurias impudentemente sobre suas car– nes, enodoando-lhe a péle branca e fina , picada aqui e ali,_ ~eviciada em vários pontos". Essa mesma Elsa, quando aco– met ida de um surto gripal ,ou de uma cefaléia (dôr de cabe- - 22 -

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