Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Na literatura nacional, encontramos -em Machado de As– sis, o princípe dos escritores, uma grande influéncia da ·'Imortalidade" e da "Dupla Personalidade", em seus contos e romances, identificandc as suas personagens, nesse senti– mento psíquico, de que o homem é imortal e a sua sombra é sua alma. Em o conto "O Espelho" (Esboço de uma nova teoria da alma humana), na nossa modesta opinião, o me– lhor conto de Machado de Assis, Jacobina, a principal per– sonagem do conto, admite a existência de duas almas nas criaturas humanas. Uma aue olha de dentro para fora, e outra que olha de fora para dentro. Jacobina, -que com 25 anos, foi promovido a "alferes", e este posto teve tanta in– fluência em sua vida anímica, que o "alferes" eliminou o ho– mem. Durante alguns dias, as duas naturezas equilibraram– se; mas não tard-ou que a primitiva cedesse a outra, ficando– lhe uma parte mínima de humanidade. E foi tão real esta influência, que um dia, olhando para o espelho de seu quar– to, este lhe estampou a "sua sombra de alferes" ; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos ... " · Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa a fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. O alferes do Es– pelho, diz Lucia Miguel Pereira, "naufragando numa crise de introversão, desamparado da consciência de si mesmo, só se curva quando a farda , devolvendo-lhe ao espelho a ima– gem que o envaidecia, fê-lo como que se projetar fóra de si mesmo, arejando o espírito pela visão do "Eu", exterior. E com este regime poude atravessar Jacobina mais seis dias de solidão sem o sentir" . Em o conto - "A Vida Eterna" - Camilo da Anuncia– ção, personagem do conto que, na nossa opinião, é o próprio Machado de Assis, pois que êle serve-se do nome da personagem para usar como pseudônimo, sonha que Tobias, professor de matemática dá-lhe em casamento sua filha Eu– sebia, "Senhora de uma' riqueza igual à de um Creso", por que era a sua única herdeira. Mas, no entanto, faz-lhe co– nhecedor do "Elixir da Eternidade" - encontrado numa rui– na do Egíto, no ano de 402. "Em nome da águia preta e dos sete meninos do Setentrião, salve''. Quando se juntarem vinte pessoas e quizerem gozar do inapreciavel privilégio de uma vida eterna, devem organizar uma associação secreta, e criar todos os anos no dia de São Bartolomeu, um velho maior de sessenta anos de idade, assado no forno , e beber vinho puro por cima". A vítima nesse ano foi escolhida, o filosofo Ca– milo da Anunciação, que daria sua vida, para eternizar a dos vinte setuagenários da secreta ceita chefiada pelo matemático - 21 -

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