Revista da Academia Paraense de Letras 1961
r 1 1 ~ ração, enquanto a fisionomia do retrato recuperava a sua primitiva juventude e beleza". Pertence também ao domínio da "Dupla Personalidade", porém, num terreno mais patologico, o impressionante con– to de Guy de Maupassant, intitulado "O Horla". - "O per– sonagem da novela que compõe um diário, é vítima de es– tados · angustiosos, onde uma "Neurose de Angustia", resis– tente a todo o tratamento e que , atormentam especialmente à noite, perseguindo-o em seus sonhos. Com espanto, uma noite, percebe que a garrafa de água, repleta ao anoitecer, fôra completamente esvasiada, conquanto pessoa alguma houvesse penetrado em seu quarto fechado. Desde este m-o– mento, sua atenção concentra-se num espírito invisível, o Rorla, que vive dentro dêle ou a seu lado. Em vão empre– ga todos os meios possíveis para livrar-se. Convence-se ca– da vez mais da existência de um ser misterioso, que o es– preita, escuta, domina e persegue. Muitas vezes volta-se repentinamente na espectativa de surpreender e agarrar esse ser. Precipita-se no seu quarto, ainda escuro, julgando encontrar o Horla, para poder agar.: rá-lo, sufocá-lo e matá-lo. Mais tarde a idéia de livrar-se do tirano invisívet transforma-se em obcessão. Tranca as por– tas e janelas do quarto com barras de ferro e sai furtivamen– te com a r.sperança de haver aprisionado o Horla. Deita fogo a casa, e contempla o incendio com grande satisfação, mas, imediatamente duvida da destruição de Horla, de quem pro– cura livrar-se dessa maneira. Somente no suicídio encontra o recurso supremo". Em outra novela intitulada ·~le", - baseada no mesmo têma de "O Horla", Maupassant descreve mais distinta– mente alguns desses aspectos . A história desse misterioso '_'Êle", é a confissão de um homem que deseja casar-se apenas por que não tolera o isolamento; desde a noite que ao entrar em seu quarto, deparou com "1!:le' instalado na poltrona, que habitualmente ocupava. Sentia-se constantemente persegui– do, julgando, entretanto, como absurdo este estado de espí– rito. O per~eguidor existia apenas no seu temor e desespêro, e desaparecia quando acompanhado". Diz Rank, que foi Alfredo de Musset, em "A noite de De– zembro", quem exprimiu, de maneira extraordinàriamente bela, um estado de espírito que se transforma em profunda melancolia. - Em dialogo com "A visão'_' o poeta descreve, como de tempo em tempo, e em lugares diversos , desde a in– fância, lhe parecia um "duplo" sob a forma de uma sombra tão semelhante a êle como se fora seu irmão. Finalmente ' 19 -
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