Revista da Academia Paraense de Letras 1961

para si uma personalidade aparte, portadora de todos os seus maus instintos. De quando em quando, adota esta persona– lidade nP. aspecto repulsivo, que domina Mr. Hyde, dando li– vre curso a todos os seus maus instintos e impulsos. A perso– nalidade de Mr. Hyde é absolutamente perversa. Gradativa– mente adquire maior dominio e Hyde pratica um crime hor– ripilante. O Dr. Jekill transforma-se, involuntàriamente, em Mi. Hyde e a droga perde aos poucos o poder de restaurar sua forma originaria e o seu carater preste a ser descoberto e pre– so, o Dr. Jekill volta a vida normal". Em a novela - "O Elixir de Satanás", e o conto "O Du– plo", de Hoffmann, encontra-se esse mesmo têma semelhante, da dupla personalidade, constantemente confundido, entre as manifestações psiquicas do "Bem" e do "Mal". O problema da "Personalidade", assim cumo o temôr de envelhecer e perder a beleza, é também o têma do romance de Oscar Wilde - "O Retrato de Dorian Gray". Doryan, jovem e belo, manifesta grande admiração ao contemplar pela primeira vez o seu re– trato. Exprime o desejo fantástico de permanecer sempre jo– vem como está ali representado e contemplar registrados no retrato os sinais da velhice. Este desejo é satisfeito tràgicamen– te. Doryan nota a primeira transformação no quadro, quando, brutalmente, desmancha seu noivado com Sybil, por que , como outros, o seu temperamento duvida de si mesmo em face do amor. Daí por diante, o retrato princíp\a a envelhecer e re– gistrando os sinais das paixões, representa a c·:::>m:ciência visí– vel de Doryan . Com desenvolvimento excessivo do amôr por si próprio, aprendé, através do retrato, a odiar sua própria alma. Escon– ·le o quadro, o que o enchP. de mêdo e pavor, mas espreita-o, de quando em vez, para c011frontá-lo com sua própria fis:onomia que permanece inalterável. A sua antiga admiração transfor~ ma-se aos poucos em repugnancia. Amaldiçoando sua beleza atira o espelho ao solo e €smiga1ha-o em mil pedaços com 0 ~ pés . Por meio de hábil recurso artístico de Oscar Wilde a fo– bia do espelho forma o assunto de uma novela, particula~men– te admirada por Doryan Gray e na qual a personagem prin– cipal - ao coiitrário de Doryan perde a sua extraordinária beleza durante a mocidade. Dessa época em diante, Doryan tem peculiar aversão pelos espelhos, superfícies polidas e águas paradas. Havendo assassinado ocasionalmente o ~r– tista que pintava o trágico retrato, e induzido Sybil, sua noi– va, ao suícidio, Doryan não encontra mais repouso. Con– venceu-se de que é perseguido e está condenado à morte. A fim de acabar com tudo e livrar-se de um passado intolerá– vel, resolve destruir o quadro. Mas, no ato da destruição cai morto, velho e desfigurado, com o punhal enterrado no co- - 18 - •

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