Revista da Academia Paraense de Letras 1961

para além das próprias fronteiras do instinto que apega o homem à v:da por pior que ela se~a . PA VIRADA, o caç.:ldor de indios; o matreiro mateiro e rasteja– dor ARARA .K'EGRA; o 1evoltado e patriota Clocomir, Nanci, a filha da lavadeira Nazaré "empregada" ao velho Jerônimo, Jura, o caboclo de avançadas idéias, o moço Eduardo médico e prefeito . .. Toda essa gente com seus problemas, suas duvidas sôbre o amanhã ou seu con– formismo .fatalista pelo que há de vir nós descobrimos que algures já conviveram conosco, falaram-nos nesse idioma animico em que os entendeu o romanc ista para no-los por diante dos olhos em suas pá– ginas coloridas a pinceladas às vezes violentas. Esse livro é uma revelação de problemas sociais angustiantes de dramas ignorados que o escritor perquiriu, auscultou, sentiu na carne e no espírito por te-los vivido, embora não seja um roteiro bio– gra fico nas criatura., que reuniu com maestria nas páginas fortes, escritas com desenvoltura de artifice autêntico da palavra, que nelas é luz e sombra, luar e sol, alegria e desol-ação, esperança e desencanto... Ouçamos o vaqueiro Jerônimo : "Eu nasci nesta terra . Pisei .a lama no inverno e arrebentei os pés n-a terroada do verão. cresc-i aqui, nesta ilha galopando nos campos do Desterro do Mocoões, do Anajás, do Arari, vendo o gado morrer no inverno, afogado nas alagações, roido pelas febres, trôpego, com as patas em carne viva; e, no verão, morrendo do mesmo geito, às vezes de fome, e quasi sempre preso à beira dos bebedouros naturais, a t olado na lama gulosa que contorna ou demarca os veios dágua. Mas isto n ão se acaba nunca! . . . " A lavadeira toe.antina: "O sinhô não arrepare casa de pobre tem m 1 iséria" . O caboclo criador de me· a duzia de galinhas: " É, tá caro mêmo, mais se quizé o capão é deis mil reis . A curpa é do governo. . . É do imposto! Tá tudo n-a hora da morte! .. . " - Você paga imposto pra criar galinhas ? - Oh! gentes, então quem é que paga, não é nois, o puvo? Eu nun su puvo" ? um grande romance, incontestavelmente . Na variedade de a ção, de costumes, de paisagem naturalistica e humana, um livro que entra para as nossas letr as com lug-a r defin'.do, porventura o nosso maior rom,9.nce dos últimos tempos . O autor de obra desse quilate tem pleno direito a uma poltrona na Academia Paraense de Letras . Belém, 21 de a gosto de 1960. aa ) DE CAMPOS RIBEIRO RAUL DA COSTA BRAGA LUIZ TEIXEIRA GOMES sufr agaram seu nome os seguintes academicos: Ernesto Cruz, Georgenor Franco, De Campos Ribeiro, Eldonor Lima, Pernambuco Filho, Bruno de Menezes, Raul Braga, Osvaldo Viana, Rodrig~es Pinagé Jurandir Bezerra, Avertano Rocha, Edgar Proen ça, Cupert1no conte~te, Manuel Lobato, Abelardo Condurú, João Rodrigues Viana, Levi Hal de Moura, Santa na Ma rques e Paulo Maranhão,. num total de 19, o que constitui a maioria absoluta da Casa . - 177 -

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