Revista da Academia Paraense de Letras 1961

cultura do professor paraense, que a seguir lançava o seu m.aior livro: "Vultos e descobrimentos do Pará e do Amazona.s", em 1900, qu_ando do transcurso do qua rto centenário do Brasil. Nessa obra há profun– dos estudos da geografia e da história dos dois grandes Estados da Federação, que ainda hoje é um.a valiosa fonte de consulta no conhe– cimento da formação do Brasil setentrional, cujo futuro o autor mos– tra com esclarecido critério, baseando suas assertivas na fabulosa for– tuna nativa da floresta amazônica, da rêde potamográfica inigualável, bem como na riqueza do subsolo, que vislumbrara e agora começa a se confirmar pela descoberta do petróleo no Madeira, manganês, no Amapá, cristais e diamantes no Tocantins e tantos outros minerais que virão por certo concorrer para o progresso e a grandeza do Brasil. "Belém a São João do Araguaia", por outro lado, é um belo estudo que fez Inácio Moura, publicado em francês que mereceu inúmeros elogios no Congresso Americanista, em Viena, em 1908 . Além da par– te científica, recolhida na excursão, descreve aquêle caudal potâmico com verdadeiro amor e 'inausit-ado interêsse como poucos patriotas . Nessa narração são reveladas as pedrarias do rio, a imponencia da mata e a impetuo.sidade das cachoeiras. Mostra ainda a necessidade de ser construídas estradas que ladeassem as cachoeiras intranspo– níveis apresentando .ainda cálculos sôbre a fôrça hidráulica das mes– mas . A semelhança de Couto de Magalhães, Humbolt e Martius e ou– tros, vislumbrou o destino do incomensurável Tocantins, que nasce no coração do Brasil para se despejar no Atlântico. Tinha realmente r.azão o filho do Tocantins em assim se deleitar com a paisagem esfusiante de sua terra, mostrando através dessa obra o seu conhe– cimento cientüico, revelando, por outro lado, a sua visão de geógrafo, sobressaindo-se ainda como economista e matemático. Na alegria Yibrante pelo lugar em que nasceu, nota-se a mais doce impressão de seu espírito, pelo que, até então, se escondia aos descu id-ados olhos dos perlustradores, fazendo com que Rui Barbosa escrevesse ao autor, salientando "que dif!cilmente sua obra seria surprêsa". Dado o seu vasto conhecimento, foi convidado, Inácio Moura, a ingressar em várias instituições científicas do p.aís e do mundo . Nesta época, embora atingido pela cegueira, não deixou de continuar nos seus estudos, sonhando sempre com a grandeza de su.a terra e da civilização brasiieira . O eustre paraense era um sentimento debruçado na causa popu– lar e sua índole socialista estava atenta para os fenômenos sociais, numa época em que as questões de âmbito social ainda não atingiam nosso país, e ês.ses problemas na Europa estavam, apenas sendo discu– tidos pelos grandes escritóres da época em atritos constantes com o poder imperalista do capital. Desde as suas relações íntimas com os alunos d.as várias gerações que passaram pelo Liceu Paraense até as reuniões operárias e do povo, o professor Inácio Moura expressava sem– pre a sua fé socialista baseada no direito que todos têm de uma vida digna resultante do tr.abalho honesto . Era, por isso, um orador infa– lível nos comícios e em prosa e verso escrevia na imprensa sôbre os deveres e direitos das classes patronais e dos operários formulando nessas ocasiões, .apelos de humanidade em favor dos trabalhadores à falta de leis que lhes dessem garantia e justiça . Sempre humilde fu– gia sempre dos acenos deslumbrantes dos abastados do poder econô– mico. ídolo dos estudantes, era de outro lado, o líder autêntico dos operários na sua luta constante pelo bem-estar das classes menos fa– vorecidas . Uma de suas poesias ficou indelével pela beleza literária 171 -

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