Revista da Academia Paraense de Letras 1961

prias mãos, para terminar com a vida, praticando um ato de "auto-sadismo intenso". Como diz Rank, "apesar de não ser nova a idéia da "Dupla Personalidade" e da "Imortalidade", como assunto principal nas obras literárias de renome , a sua popularidade tem sido decididamente periódica. Assim como o ódio fraternal foi t êma típico em literatura, pelos fins do século 18, e o amor incestuoso entre irmãos e irmãs, na Eda– de Elizabetheana, o assunto sobre a "Dupla Personalidade", flcresceu, na Alemanha, durante a Éra Romântica" . Como geralmente acontece com os t êmas populares da literatura, este tem suas raizes no passado remoto, aparecen– do no "Folclore", nas superstições e antigos costumes reli– giosos. Não sàmente a literat ura, mas também a arte cinemato– gráfica, tem se aproveitado, para retirar da "Dupla Perso– nalidade", assuntos tão interessantes para seus filmes , como aconteceu em 1914, com a película "O Estudante de Praga" - e que deu motivo a Otto Rank inspirar-se para escrever o seu admirável livro "A Dupla Personalidade" . Na abalizada opinião de Rank, em quase todas as obras do romancist a alemão E. Th . A. Hoffmann, que é sem dúvida o maior conhecedor do problema da "Dupla Personadidade", tão divulgado na poesia e ficção românticas, foram encontra– dos este assunto, sob diversas formas e como têma dominante, em algumas obras muito importantes. O próprio filme de Ewere - "O Estudante de Praga" - é tirado do conto de Hoffmann, intitulado "História da Imagem Perdida". O t êma da perda da sombra foi explorado por Lenau, em seu belo poema "Ana", baseado na lenda suéca sobre uma jo– vem que acredita perder a beleza no caso de vir a ser mãe. Desejando conservar eternamente sua mocidade e encanto, vai a um feiticeiro, antes do casamento, e este livra-a pela mágica dos sete filhos que o destino lhe reservara. Durante sete anos sua beleza permanece inalterada. Certa noite, po– rém, seu marido percebe, pela luz da lua, que ela não possui uma sombr a . Interrogada , a esposa vaidosa, confessa o seu crime. Desprezada pelo marido, durante sete anos, vive uma vida de penitência e o remorso que deixa traços profundos em seu semblante . A melhor história deste genero é, sem dúvida , "O caso extranho do Dr . Jekil e Mr. Hyde", de Stevenson, cuja re– presentação cinematográfica todos nós conhecemos sob o no– me de "O médico e o monstro" - "O Dr. Jekill, um médico consciente da dualidade da sua própria natureza, em que co– existem o "Bem" e o "Mal", fascinado pela idéia das vanta– gens que obteria caso estas, duas personalidades pudessem apa– recer distintamente, descobre uma droga que lhe permite crear - 17 -

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