Revista da Academia Paraense de Letras 1961
e de Geografia, bem como de outras instituições de altos estudos, se– diadas no Recife. Por êsse tempo, o Pará reclamav.a os serviços esclarecidos do môço engenheiro, e por isso, Inácio Moura é encarregado da cons– trução da Estrada de Ferrp de Bragança, trabalho que conduziu até a sua inauguração inicial. Depois, em 1890, é designado como enge– nheiro para a Comissão de Legislação da Estradil. de Ferro Norte do Brasil. Sempre voltado ao seu Estado natal, vai a .seguir, para a sua terra e em concurso conquista a cadeira de Matemática no Liceu Paraense, em 1820 onde fêz do Curso de Humanidades um apos– tolado, tudo isw numa época em que as classes estudantis aind,1 não tinham líderes, nem essas agremiações gozavam dos benefícios ofici-ais como hoje acontece, Inácio Moura era o líder legitimo da mocidade estudiosa, que nele sempre encontrava solidariedade o conselho amigo e o apoio moral. Em mais de 30 anos de efetivo exercício no Liceu Paraense, inol– vidavel professor, foi o legítimo representante, menos da Congregação do estabelecimento, do que das gerações de paraenses ilustres que passaram pelo tradicional Ginásio . E' que Inácio Moura foi o pionei– ro de duas gloriosas fôrças sociais e humanas, muito embora. sua vida se expandisse na pesquisa cientifica, no desenvolvimento da cultura, volvendo-se, por outro lado, para a Literatura, para a Poe.,ia, priman– do pela espontaneidade e o ardor intimorato do seu espírito luminoso e do seu coração cheio sempre de bondade e vibração pelas causas coletivas - eis o seu pioneirismo tr-ansbordante de bravura de entu– siasmo e arroubos atrevidos nas duas causas fundamentais da for– mação da comunidade brasileira e universal: a extinção da escrava– tura e a organização social dos trabalhadores. Na primeira, cuja campanha foi deflagrada quando ainda jovem, esquec;do das desvantagens materiais do apostolado lançava-se com desassombro na Escola Politécnica do Rio; em Pernambuco na tribuna e na imprensa, como um dos mais ardorosos paladinos da libertação dos escravos, deixando trabalhos memorável-, cujas cópias e exempla– res revelam a viva propaganda do abolicion!smo, que o fêz aproximar– se e gozar da amizade fraternal de Joaquim N-'.lbuco e Patrocínio. Essa atitude humana e ge~erosa cond1;1ziu Inácio Moura à admiração, es– tima d-as classes hum1lde3 do Para, que o elegeram deputado es tadual em 1885 e geral em 1888. Apesar do respeito e veneração que tinha por seu bravo pai, fervoroso adorador de Dom Pedro II, não amorteceram no ilustre paraense os impetos republicanos, que vibraram conjunta– mente com a Aboli~ão e a questao social, como a mim próprio, seu parente aluno, amigo dedicado, disse certa vez, não podia ser outra sua atitude em face às causas que sacudiram o Brasil, não separando a República do trabalhador e do escravo . Inteligência irradiante, Inácio Moura foi poeta primoroso pondo .a poes·a a serviço de sua fé em qualquer das grandes causas que abra– çava. tal como Castro Alves defendendo os escravos n.a campa.nha de sua libertação atraves d.a poesia e sonetos que recitava por tôda a parte e que refletia nos estudantes e abolicionistas . Muitas dessas obras eram musicadas para modinhas fazendo como Fagundes Varela Melo Morais, Alvares de Azevedo, Tobias E-arreto e tantos outros' a alegria nas serenatas de todo o Brasil. Dentre muitas tão conhec idas há uma inedita que foi recitada no Politeama, de Belém do Pará numa festa em favor da libertação dos Escravos e que tem o válor por ser de improviso e onde Inácio Moura deu asas ao seu temperamento ~ entusi-as1:10 qu~,. mesmo ?-e~pr~zando os reparos da métrica produziu verd-ade1ro dehno na ass1stenc1a que lotava o teatro na noite de 24 de setembro de 1887. l!:ste episódio é - 168 -
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