Revista da Academia Paraense de Letras 1961

o mesmo Cícero, que dissera ser .a história "le flambearo de la recrité, lam.aite.,se de la vie", increpava. por fim aos historiadores que o haviam precedido,_de ignorarem a _arte de apresentar a verdade por forma louçã, ou, para usar de sua lmguagem, cont-avam os fatos mas não os sabiam ataviar - "narratores rerum, nono ornatores"; acabando por deHnir a história como "opus aratorium maxime", uma obra de orador. Depois das lutas dos patrícios e do., plebeus, o- procesos retóricos passaram a dominar a neutralidade da cidade dos Cezares. De acôrdo com esses processos, toda preocupação de q~em falava ou escrevia era o efeito a produzir pelo relevo da fórma, pelo colorido das idéias, pela ensenação vocabular. Crozals tem, neste sentido, uma informação que merece repro– duzida . "L'histoire de Rome, depois la lutte des patriciens et des plebeiens serait l'hlstoire même de l'eloquence !atine. L::,, parole n'était pas un exercice de parade; c'ét-ait une arme, et ih n 'était permis à per– sonne d'en negliger l'exercice". A forma eloquente, destinada a provocar fundas emoções, foi, no período em que predominaram os retoricos, exigida nos escritores como nos oradores. Boissier, querendo bem -assinalar a influência exercida na litera– tura como na oratória pela preocupação da forma eloquente, grafou estas expressivas linhas: "Quand 1-a semblait un pen maigre, ou consebaux jemes gens d'ajouter quelquer incic!ent.s agréablement imaginés, qu'on appellait des couleurs - quelques - uns même, qui étraient plus frane.':', disaient des mensonges - A celui qui savait le mieux inventer des couleurs à propos, était sur d'être applaudi de ses camarades". A tal ponto de culminância atingiu o hábito de deturpar os acon– tecimentos em benefíc·io do efeito oratório, que Cícero - segundo informa o citado Boissier - continuava a dizer: "Quand le rheteur invoque l'histoire, il ne lui est x' pas defendu de mentir" . O fenomeno ocorr'a porque a história, para os romanos, em. uma arte. Como arte, êles - na opinião de Crozalo - "ne se refusaient pas le droit d'embellir par des fiction~, ou se complaisaient la vanité nationalle, he tissu des faits trad!tionnels". Mas, sabido é que o maior mérito do historiador é amar a ver- . dade e dizê-la. A esclarecida consciência de V. Exc:a. não escapou êste ditame. Por isto fez de "Cabanagem" um livro verdadeiro - um livro em que a verdade reponta e-as copiosas fontes em que V. Excia. mergulhou até aos últimos ·recessos o seu perquiridor espirita. "Ne quid falsi dicere andeat, ne quid veri nom audeat". Dizer a verdade, toda a verdade, sem fraqueza, sem reticências. Tal foi 0 lema de V. Excia., irradiante da obra tôda, principalmente de "Primordios". Li, com o deliberado propósito de o julgar com lealdade o seu valioso livro ; e, quando conclui a leitura, repetia com certa vibração de :1ervos, e~tas P~!ayras 1e. Duruy, UI? dos meus mais prediletos his– toriadores: . . . J ame 1h1stoire qm conclut et celle que fournit des leçons" . A história, hoje, constitue uma ciência, com profundas raízes na Sociologia. Foi so~ o império desta orientação que v. Excia escreveu "Cabanagem" . Desta sorte, as causas que influiram na deflagração da sangrenta revolta foram por V. Excia . bem pesquizadas e expos~ tas com clareza e sem timidez. Constata-se, deletreando-se o trabalho de V. Excia . que o cabano não foi um bandoleiro, não foi um bandido 9ue instintos ferozes ao serviço_de ln justo. ódio teriam Impulsionado a prática de crueldades . ~le foi - V. Exc1a . o prova irretorquivel– mente - um revoltado, um rebelado contra a tirania que os conquis- - 158 .,

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