Revista da Academia Paraense de Letras 1961

... - L O Cabano Não Foi Um Bandoleiro de ELIAS VIANA Publicando nesta página a carta que o Dr. El!ias Viana, falecido em Belém a 19 de dezembro de 1954, dirigiu ao desembargador Jorge Hurley quan·do da publicação do livro "A Uabanagem", homenageamos a memória de dois homens que honraram a cultura de nossa terra. Esta página de Elias Viana, encontrada entre papeis em seu gabinete de trabalho, á travessa Campos Sales, bem revela o gráu de cultura do saudoso mestre, cuja morte veiu abrir profunda lacuna nas letras regionais. "Exmo. Sr. Desembargador Jorge Hurley : - Com uma dedicatoria em que há demasias de generosidade ao meu modest o merecimento, recebi "A Cabanagem", sua última produção literária atirada à avi– dez espiritual dos que se interessam pelo nosso passado histórico, só recentemente estudado e compreendido com o devido critério. O genero de literatura a que a obra pertence tem sido, da mais • remota antiguidade aos nossos dias, talvez o mais explorado, sem que, entretanto, a maioria dos cabouqueiros tenha conseguido realizar bons trabalhos . A literatura histórica, com efeito, tem tentado a muitos espiri– tos propensos à meditação e à crítica; mas, em verdade, poucos têm sido os frutos produzidos, dignos de irrestritos encômios . Cicero, à quem os mais autorizados investigadores da antiguidade latina ajuntam as qualidades de orador e historiador, dizia, estigma– tizando os velhos analistas - "abest historia a litteris nostris" . Nós não temos história. Muito depois dêle, Thomas Macaulay ponderava na Inglaterra, deprimindo os histo-rkt.dores de seu tempo: "Good histories, ln the proper sense of the word, we have not. But we have good historical essays. The imagination and the reason, if we may use a legal me– taphor, have partition of a province of literature of which they were formerley seised per my et per tont". Qual a causa de semelhante fato? A fantasia, que frequentemente se apoderava do espirita dos his– toriadores, contribuindo para que a verdade fosse a cada p.a.sso de– turpada em proveito da eloquência. - 157