Revista da Academia Paraense de Letras 1961

.. O Monge do Palacio Azul RODRIGUES PINAGE' A memória de Artunio Vieira Todos os dias, quando o sol nascente banhava em luz de suave reverbero as largas portas do palácio austero abertas ao labor quotidiano, quem por ali passasse, indiferente ao vital borborinho, via, ao longe, a estátua neuranêmica de um monge, a vetusta expressão de um ser humano. , Um pobre velho, recurvado e mudo, que, pelas neumas lhe movendo os lábios, recordava as delícias e os ressabias e, sem nada falar ... falava tudo! Um velho servidor, que, de olhos baços, no salão se postava, o dia inteiro! Do Tribunal - fazia o seu mosteiro; De uma coluna - a sua cruz sem braços. Noventa e sete sóis iluminaram sua vida de estoico e peregrino. Era Artunio Vieira, o beduino, o vate ardente de emoções estranhas, que viu no sonho, em vez de céus abertos, a predestinação do dromedário, de passo tardo a atravessar desertos: de dorso exausto a conduzir montanhas! .............. ' ........................ . Do seu precórdio vou me aproximando, com a mesma impenitência dos ascetas - ' porque a maior consolaçao dos poetas é não ter glórias e morrer sonhando! - 155 - ·

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