Revista da Academia Paraense de Letras 1961
- ' Belém que está distante A MULATA Luís Teixeira Gomes (Jaques Flores) Dentre as cofaas boas que, por força da civilização de– lirante cm que vivemos, desapareceram desta "Cidade da Be– leza e da Amargura", para usar feliz expressão do poeta De Campos Ribeiro, está, a meu vêr, em primeiro plano, a.mulata. A mulata como eu a conheci por volta de 1915 a 1920. Há quarenta anos, mais ou menos. E estou a admirá-la daqui, ao influxo da saudade e da recordação, airosa e chibante, rescendendo a jasmim e a man– gerona, -cesta de vime pendurada ao braço, rumo ao Mercado Municipal. Passava, deixando a caixeirada e mesmo os patrões, es– pecialmente os filhos da lusa-pátria, às esquinas ou às por– tas dos armazens, frementes e de olhos gulosos sôbre as for– mas bambaleantes, rechonchudas, da simpática e azougante criatura. Se os patrícios de Salazar mostravam predileção pelas pretas, pelas mulatas, então, nem é bom falar. Era um xa– mêgo, um agarradio que Deus nos acuda. Esta situação até me faz lembrar interessante cêna que João do Rio nos relata no seu "Alma encantadora das ruas". Mas, prosseguindo: Ia a mulata ao mercado, ao Ver-o– Peso, ao Reduto, tagarela e risonha, fazer as compras para a casa, onde, como cozinheira, melhor direi, quituteira, es– tava empregada, e onde merecia tôdas as atenções da parte de quantos se constituiam seus superiores. Não raro, sumia das ruas por onde costumava -andar para surgir como doceira nos arraiais festivos. Em Nazaré, por exemplo, na quinzena outubrina, os dôces do xarão da mulata eram os mais finos e gostosos e os mais vendidos. Também pudera! Além de outras atrações, o xarão apresen– tava-se forrado com uma toalha branca rendada, limpa, lim– píssima. Como doceira a mulata estava melhor de vida, havia progredido, não era empregada de ninguém . - 153 -
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