Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Acabamos de passar uma época em que se dizia que o hcmem mais cot~do era o Contrabandista, porque tendo o ganho 1ácil, o seu dinheiro era mais prodigo na compra de eleitores . E a cousa chegou a tal ponto que um inaiviauo pobre não poude ser mais deputado. E' que o voto se adquiria de contado ,com dinhei– ro ganho no contrabando ou obtido no peculato. Paulo Maranhão na comunhão paraense é um homem que não mendiga favores á Situação . As auras da fortuna teem favorecido a sua empresa bem organi– zada . Por isso, a1óra os seus altos dotes intelectuais, é sujeito que possue influência no concerto financeiro da região . Porém, essa influência poóeria ser maior se ele curvasse a cerviz perante as exigências dos poiiticos . .M:as não o faz, porque é orgulhoso e é patriota . Em lugar disso, dentro da ingenuidade do seu idealismo, guarda o seu nome, para que o futuro reverencíe com louvor, a aura da sua inclita personalidaae . .A, aproximação de qualquer pessôa ,a es.se homem, que é grande pelo saber, pela tradição, e devido o respeito de que é alvo nas esferas culturais do país, causa surpre.!:a, acanhamento, desconcertos nos in-– divíduos que a tal se movam. E' que em vez, de encontrarem um cavalheiro a quem natural– mente essas vantagens encheram de vaidade, dão com um senhor retraído, mas modesto e de bôa sombra. Porque Paulo Maranhão é um afetivo . E' um ser que encontra merecimento em toda a gente, peculiaridades apreciaveis naqueles moços que deles se achegam, pedindo para ingressar no seu jornal. E ele, generosamente, vai acolhendo desde os mais humildes, co– laborando desta !forma fortemente , pelo futuro da intelectualidade do Pará . O elogío sccial da sua pena é comum, porque ele é um bom . Se bem que o elogío literário se faça mais raro; dado que este equivalha bem por uma consagração. A quem ele disser louvores em arte, póde-se se considerar feito, pois entre nós ele tem o prestigio e a autoridade cerno tinha Rui Barbosa no Brasil . E' sincero, e crítico de grande sagacidade. Os seus artigos politiccs se fossem reunidos e republicados em livro, formariam uma nova coletanea, em nada inferior á dos puris– tas do idioma . Há ali, o arranque, os termos castiços, a frase elegante, os argu– mentos terríveis, os sarcasmos impiedosos, e a matéria escrita. onde admirar com volupia, os recursos e a beleza da nossa lingua. Algumas vezes tenho tido conversa com o meu grande amigo, que como todo o homem de• pensamento vive sempre desgostoso com qualquer cousa do mundo . Tenho ouvido suas confidências ás vezes, e quando me vou fico com esta 'impressão: O senhor Maranhão não tem dessas satisfações euforicas e bonachonas, próprias dos homens vito– riosos e que vivem ridiculamente orgulhosos de si próprios . Antes, pensa como os filosct:os, censurando os lados fracos da vida e as incoerências da Sociedade . E" ele, é um desse:; h cmens, que visto de ·longe, são alvos da nossa curiosidade e admiração; e visto de perto, num trato mais intimo, pela sua desilusão das cousas e pela sua modestia, ficamos t cdos lhe querendo bem . . . · Mas vã o ,já . longe essas impressões sôbre um personagem ilustre . Cumpre apenas, para satisfazer a curiosidade dos porvindouros, ex– plicar como ele se fez . Segundo ver.são popular, a história da FOLHA DO NORTE é esta, tirante pequenos erros : J oão Paulo de Albuquerque Maranhão, criado pela. avó pobríssima, foi primeir amente serralheiro, depois por grande força de vontade - 139 -

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