Revista da Academia Paraense de Letras 1961

lançar uma sombra na parede do aposento ou que lançar uma sombra sem cabeça, está destinado a falecer no correr do ano. Os Judeus fazem quase idêntica experiência na noite de sua festa de "Cabanes" - saem ao luar e aqueles cujas sombr as não têm cabeças, deverão morrer dentro de um ano. Em algumas aldeias alemãs, acreditam que aquele que pisar sua própria sombra morrerá , em contraste à crença de que aquele que não lançar uma sombra morrerá; há uma outra superstição alemã, segundo a qual aquele que vê sua sombra "duplicar-se", será enterrado antes de terminar o ano. Entre nós, há a mesma superstição da sombra, no mês de junho, durante os festejos da quadra junina. Todo aquele que não vir sua própria sombra, no fundo da bacia cheia ne água, na véspera de São João, à meia noite, morrerá antes de findar o ano. "As superstições e t emores, que dizem respeito à sombra, existente entre os povos cultos de nossos tempos, encontram ieu complemento em numerosos "mitos" e "tabús" divulga– das entre os povos primitivos. O psicoanalista Otto Rank ve– rificou na grande coleção de costumes acumulados por Fra– zcr, que há crenças r eligiosas ent re os selvagens correspon– dentes às n0ssas superstições. Negelein, também citado por Rank, assinala que é muito comum a crença de que um ini– migo pode ser assassinado, f.erindo-se a sua sombra, fato este muito conhecido nos tempos antigos". Segundo uma crença 'hindú, "matava-se o inimigo, transpassando o coração de sua imagem ou sombra". Todos os folcloristas, unanimemente assinalam que os povos primitivos consideram a sombra como um equivalen– te da alma humana. Esta crença explica o particular res– peito que dedicam à sombra, e os "tabus" creados em torno dela , e ainda mais, que todos os temores supersticiosos da morte nascem da infração dos "tabus", visto que o ferimen– to, a mutilação ou perda da sombra, são irremediavelmente seguidos pela morte". Taylor, em seu livro - "Cultura Pri~ mitiva" , registra a " identificação da alma com a sombra es– tabelecida pelos povos primitivos, principalmente os ~ais nrimitivos habitantes da Tasmania". Variada série de re– latórios apresentados em estudos folcloricos , põe fora de dú– vida o fato d.e aue o homem primitivo considera a sombra o seu "Misterioso Duplo", como um ser espiritual, porém real". Quando nos Camerons, um nativo diz: "Posso ver minha alma diàriamente, desde que vá ao sol", é claro que se refere a sua sombra . Spieht escreve o seguinte a respeito dos habitantes de Ewe: - "A alma do homem pode ser vista na sua sombra". E Warnek, referindo-se aos habit antes de Batak, diz: - "Acre- - 14 - •

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