Revista da Academia Paraense de Letras 1961

1 Mas a sua gerência é inexoravel nas tramações de balcão. E tem. que ser .assim . Maranhã o é homem anti-arrivista e comedido em tudo, no traje, nas atitudes e até na sua própria vida intelectual. Produz pouco. Quando era simples secretário de redação e o jqrnal pert encia a outro, aí sim, publicava alguns contos maravilho– sos pela feitura realista, e pequenos ensaie s que, pelo -acabamenw e elegância de estilo, chamavam a atenção das pessoas de bom gôsto, e eram gu,ardados como pequenas cbras primas. Depois que passou a proprietário, raramente usou do seu periodico para publicar qualquer publicação literária . .Cumpre assim, a mora– lid-a-de do r ifã c : "casa de ferreiro, espeto de páu". Afóra "Os ocios de um espírito sonolento" de quando em vez,– sp aparece em letra de fôrma quando o chamam necessidades urgen– tes, para cem a pena em riste inve.,tir contr-a os abusos do poder de Chel es de Estado atrabiliarios que, sem respeitar -a Democracia, pen– sam que estão governando um,a senzala. Aí, ele se torna perigoso, porque n o ardor do combate adquire a volupia -da luta, como um pugilista que no acêso dos prelics se tor– nasse isento de cansaço. Para esse esforço pcssue um caracter de uma eníibratura ferrea, que para resistência, se acha apoiado numa m-agniflca cultura literária . Pode-.,e dizer que é um devorador de livros . A literatura greco– latina lhe é familiar . Conhece os clássicos francezes, toda a litera-. tura do século XIX, e o que de bom se tem publicado no Brasil e em Portugal. A seguir á 1.ª Guerra mundial percorreu a Europa, v~ itando de– tidamente, a Alemanha e a França . Depois, o seu estilo tem ina to o dom do sarcasmo . Este, nas discussões violentas explode como petardos na res– peitabilidade do adversário, n ão contun-dindo nem fazendo sangueJ mas geralmente, produzindo o riso . Nisto ele é perfeito . Quando começou ,a aparecer nas ruas, cem o advento vitorioso da política laurista, era de ver aquele homem de estatura mediana, usando naquele tempo de acôrdo com .a moda, bigcde, bengala e cha– péu de palinha, moreno e de fisionomia carregada . Sabendo-se quem ele era, des pertava interesse, pois tinha gr-an– des recursos de demolidor, todos alojados no espirita . Era arrasta-do para -as grandes reuniões políticas publicas e secretas. Todos olhavam com respeito para .aquela figura fleugmatica, que pouco falava, tornando-se por isso mesmo mais misteriosa. O fato é que, em torno de seu nome formou-se uma lenda: "Pagé do jornalismo paraense", o maior jornalista do Brasil, "o polemist a que fazia da luta como o tigre, uma condição -de vid-a" . Mas apesar dos seus golpes e das suas v1timas derrocadas, era um homem simpá tico, se bem que esses predic-ados se originassem dos seus traços apolineos . Mas, como já disse, Paulo Maranhão foi sempre um homem re– t raído, indiferente á "soçaite", e um pouco sético dos triunfos po– líticos . Porém, não é um descrente da lealdade dos homens . Como ele tem protegido a tantos! Cerno o seu pedido tem colocado amigos, e favorecido pessôas que se têm v-alido do seu formirlável prestigio! como ele tem sabido querer bem a quantos o tratam cem afeto e lealdade! Diz-se que a FOLHA é antes que tudo, um patrimonio público . De fato . Na fase desses governos violentos ela nunca se r ecusou a en– car ar -de.frente a ousadia desses governantes, indo, ao próprio pugi- ,_, 137 -

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0