Revista da Academia Paraense de Letras 1961
rem olvidar tudo quanto amaram e perderam. . . Porque sau– dade é soledade! Todos sofremos saudade na Vida, e de saudade também se morre . Até os bichos. Até os vegetais, na concepção lírica dos poetas . . . E' na saudade que reside o culto do passado, e não ha– veria redenção para os mortos se a saudade não existisse. Po– r ém, recordar não é viver. Recordar é não deixar morrer, rorque os mortos evocados estão vivos. Quem lucra com a saudade é a sobrevivência, em nossos sentidos, de todos e de tudo quanto amamos e passou; mas não será nas cinzas dêsse mundo extinto , revolvidas pela ima– ginação e pelo sentimento, que poderemos haurir novos alen– tos para continuar apetecendo e festejando a Vida. Não. A saudade é desalentadora, gerando tédio e desen– canto: companheira inseparável da velhice, da solidão e do abandono. E' certo que ela existirá, terá que existir sempre, porque se nutre do coração e da memória. No entanto, e in– felizmente - precisamos esquecer para viver. - 134 - j
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