Revista da Academia Paraense de Letras 1961
* "Venho de alguma essência embrionária para finalidades que não sei, com farrapos na vida, como um pária, com púrpura no sonho, como um rei ... " Não nos abalamos, neste breve trabalho sôbre a vida e a . obra do poeta, a analisar sistemàticamente sua técnica lite– rária e as influências que absorveu em leitura intensa e de– sordenada. Seria apontar fastidiosamente defeitos e virtudes. Procuramos compreendê-lo. Leitor de histórias alegres e trá– gicas. Escritor _de contos ,policiais e poeta lírico. -Fazer-se rir - amável tarefa! - Exclamou êle, numa crônica, em que confessava predileções pela literatura hu– morística. Deliciava-se com Fradique Mendes e com o "Juca Pato", de Belmonte, o notável caricaturista e escritor. :tle próprio se confessou "místico" e "bárbaro". Vale ressaltar, nesta oportunidade, um dos raros momentos em que falou de si mesmo: "Machado Coelho, ao fazer seu perfil literário, traçou: "Detesta a arte moderna. Acha muito assanhada a "Negra Fulô", de Jorge de Lima. Freme de mêdo ante a "Co– bra Norato" , de Bopp". Aqui o retrato que vinha sendo de aformoseamento generoso, demasiou-se em caricatura. Suave malícia do cultor das "Abelhas de ,Aristheu" ? - Não tenho tr.o acentuado êsse prognatismo hostil à arte de hoje . Apenas implico solenemente, abomino mesmo aos que , munidos do passaporte de modernismo, andam e transpõem todos os li– mites da asneira, que é a coisa mais velha dêste mundo. Só vi "Cobra Norato" no Butantã das citações. De Jorge Lima, conheço o "Negra Fulô", ;perdido num recanto da "Noite Ilus– trada". E, dêle, ficou-me a impressão de que o Brasil está aprendendo a contar" . E conclui : "Pressinto o vulto de seu talento e cultura, porque 8Ó uma personalidade verdadeira– mente formada e legitimamente original podia motivar tan– tas. boas páginas" (in a SEMANA, Belém, Junho, 14 - 1933) . Na mesma ~poca lê a "Bagaceira", de José Américo de Al– meida, guardando grande impressão . Verifica-se, pois, que muitas foram as correntes que confluiram na sua educa– ção intelectual, influenciando-o e nutrindo o seu talento. Mas nenhuma foi capaz de arrancar-lhe aquêle anúncio de ori– ginalidade, transfigurar sua personalidade singular, polir as arestas de sua linguagem, aformosear o r ítmo da música afro– br asileira que êle assimilou admiràvelmente e que assim, li- - 130 - • ,. ...,,
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