Revista da Academia Paraense de Letras 1961
parece. não as conheceu como resultado de projeção de ima– gens flagiciadoras - "madres fecundas de emoções de ter– ror" , - tão freqüentes na Amazônia, onde as antenas sen– soriais do indivíduo estão quase sempre alertas, excitando– se com os mais fantásticos motivos; antes existiam dentro dêle, em estado latente, adormecidas na memória que acu– mulou desde a infância um grande repertório de estórias de duendes e de bichos encantadás da floresta e do rio. Foram êstes os seus estímulos. Pesaram, também, a favor do mêdo, êsse "gigante negro" da alma, na interpretação de Mira y López: mêdo de morrer prematuramente e sobretudo de mor– rer fulminado por um colapso cardíaco, acidente que de fato aconteceu na manhã de 2 de maio de 1936, quando o poeta contava pouco mais de vinte e sete anos de idade. DA CONCLUSÃO Antônio Tavernard, cujo cinqüentenário de nascimen– to passou despercebido em outubro de 1958, em sua própria terra, embora alguns o tenham elevado ao primeiro plano da poesia amazônica, foi êsse vulto singular, contraditório tal– -;ez, que se bateu pelas causas mais diversas sem ter tido oportunidade de lançar-se à rua para defendê-las. Tempera– mento psicológico egocêntrico, modificado, em parte, pela en– fermidade que o marcou, criou, como o Aleijadinho na pedra maleável, alguns dos n:i,elhores poemas da nossa raça. Não legou à Amazônia um livro da estatura de "Cobra Norato", d8 Raul Bopp; não teve tempo, nem o;portunidade, o Toní. Não teve siquer uma trégua na sua vida sofredora, a paz ne– cessária ao ar.tista para, na solidão do seu estúdio, dar asas à imaginação. Chorou cêdo a sua dor. Soube suportá-la, me– lhor soube sofrê-la, transformando-a - metamorfose pun– i;ente - na sua própria felicidade. Não foi um revoltado, como o Aleijadinho, êmulo na sua desventura, que transfigu– r:wa na sua arte os desafetos (1), mas por outro lado tam– bém não foi conformista, passivo, aniquilado irremediàvel– mente incapaz de um gesto de rebeldia . ( • ) - Interpretação de H . Pereira da Silva. Vide o ensaio dedicado a Alejadinho, no livro "Arte, Povo e Elite". - 129 -
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