Revista da Academia Paraense de Letras 1961

impressas verdades ímensas, verdades que mal pôde pronun– ciar, pois na sua solidão havia indefinível "melancolia de um luar de agôsto, aberto em pálio sôbre o meu desgosto". Com– parou-se a uma velha aranha, cada um levando a sua sorte: a aranha na ilusão que é sua teia, e o poeta convencido de que era feliz . . . 1!:sse foi o seu "Consôlo" : "Ach aram muitos que eu sorrisse t anto, e fizeram com que n a minha bôca morresse o riso, e despon t asse o pranto nos olhos doridos. Gente má l . . . Que mal lhes fêz minha alegria louca, essa alegria tão comum que h á em tôda a mocidade? . . . Porventura eu não tenho o direito a ser feliz? ... Fui imperfeito, sim! A imperfeição é humana .. . Porém, não fui um mau . E esta t ortura que a minha vida lentamente insana é a paga de um mal que nunca fiz . Mas sou feliz nesta infelicidade, pois, no pranto que verto agora, triste pranto de dor e de saudade de desespêro e magno tormento, neste pranto tão claro não existe uma só gôta de arrependimento ! .. ." E, com efeito, na sua imensa dor e na sua imensa feli– cidade, havia essa completa sublimação do infortúnio, bem como, sob o aspecto de perene exaltação, perfeit a e completa interação individual, uma síntese que concilia cada poema angustfado, cada estrofe lírica ou erótica e cada verso ins– pirado nos motivos regionais em um todo produto de sua originalidade poética. Poetà estranho, exótico, místico e bárbarq. Homem da Amazônia, cheia de lendas e supersti– ções. Via-se nas noites claras de luar tropical a olhar o tem– po sem fim, soluçando, contemplando as noites amazônicas "Entre o éter e o lôdo" : ' "As noites da Amazônia são pr ofundas, mais noturnas que as out ras ! Nelas h á sensações abismais, madres fecundas de emoções de terror . .. ", etc. Essas sensações. que impressionam as sensibilidades fá– ceis de se inflamar, criando o pânico n a personalidade, êle, - 128 - l J 1

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0