Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Se o folclore regíonal introduziu-se tão finamente na sua poesia, chegando a formar verdadeiro sincretismo, o senti– ment o religioso aí exposto, dá um acento de placidez e can– dura ao seu estilo . A religiosidade de Tavernard foi uma fôrça que o permitiu resistir o trágico d.estino. Tão puro e singelo sen timento traduziu nas suas poesias. Eldonor Lima, seu companheiro nos bancos escolares, no Colégio N. S. de Nazaré, recorda-o nos seus 8 anos de idade, cursando o 2. 0 ano prímá- 1•io, lendo, em aula, versículos da Bíblia. Do Natal de Jesus, o poeta guardou também uma das mais vivas lembranças, reduzidas num poema de extrema óeleza e simplicidade. "Prece de Natal": "Olhe aqui, Jesus Menino, na fôlha do meu destino, escreva a palavra "PAZ!" Venho de muito longe, de um passado vivido em turbilhão . . . Estou cansado .. . Não quero sofrer mais! Não quero - não! Não posso! Minha vida é como taça de cristal partida em que beberam deuses e animais. Fiz mal e bem com indiferença, à-tôa, fatalismo que vinga e que perdôa, muito do homem quando é feliz . Depois, a dor . . . a dor que transfigura . . . E o Senhor sabe - história de amargura - como cumprí o que o destino quís. Mas, agora, Jesus, Jesus Criança, é tempo de chegar . . . A gente cansa, para sempre, de vez, num certo dia em que a penumbra da descrença fria toma conta de nós. Ah! nesse dia, Jesus querido, meu Jesus Criança, que morta linda a última esperança! . . . Portanto, Jesus Menino, na fôlha do meu destino, escreva a palavra "PAZ!" Para que eu durma, então, serenamente com um sono de arcanjo adolescente e não sinta, e não chore, e não desperte mais". - 126 - ..,,..

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0