Revista da Academia Paraense de Letras 1961

, .. gra,nde destaque, tocado por dedos hábeis. Era o instrumento predileto de Tony e exercia sôbre êle imenso fascinio: · "Soluça a prima, o bordão soluça . .. A alma da gente tôda se debruça sôbre <? instrumento que nos faz vibrar . . . E a toada, languidez sonora, subindo, espiralando pelo ar, tem qualquer cousa de alguém que chora com uma vontade imensa de cantar . . . E' o órgão do luar! ... Nas horas êrmas, êle vai convocar almas enfermas para a missa de tôdas as saudades . . . Companheiro de toscas soledades, voz de humildes silêncios, namorado das que nunca na vida foram amadas, consôlo das angústias sufocadas fazendo-as irromper em pranto ardente, êle vai, pelas ruas, tresloucado, semeando emoções ... E onde quer que semeie, docemente, ficam desabrochando corações . .. E' sensual às vezes, beija, peca .. . E outra vez, alucinado, incréu, ruge, blasfema, amaldiçoa, impreca, - sacrílego sonoro! - contra o céu . . . Tudo Dorque é o símbolo da raça inquieta, inconstante, indefinida, heril, mestiça de misticismo e de cachaça que anda a crucificar, entre o bem e a desgraça, a sorte do Brasil! " ** Fato comovedor na vida do poeta foram os movimentos de simpatia promovidos pelos acadêmicos de direito, aquêles que, conseguindo continuar os estudos, decidiram, em diversas oca– siões, homenagear o ex-acadêmico, recolhido agora no seu triste tugúrio. Muitos dêsses jovens foram amigos de infân– cia de Tony . Em 1931 , um ano depois de publicada a comédia ''A Menina dos 20. 000", que escrevera de parceria com f>aulo Castro, cogitou-se levar à cena êsse t rabalho, t endo o popular - 123 -

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