Revista da Academia Paraense de Letras 1961

grato; para sua desvelada mãe, sra. Marieta Frazão Tavernard, dedicou os pensamentos mais puros e o poema "Sinos de minha ermida", um dos mais sentidos de quantos escreveu, e em que se observa uma das predileções do poeta - os efeitos onoma– topaicos - no dobrar dos sinos. Bruno de Menezes também recorda a mãe do poeta, cuja morte se verificou seis mêses após a do filho, como uma senhora de inteligência aprimorada e voltada para as luzes do espírito. Afastado da sociedade e dos amigos, convivendo com al- guns poucos que lhe permaneceram fiéis e dedicados, Taver- · __...,_ nard conservou intacto o amor à vida e aos sêres humanos. O pequeno círculo das suas amizades foi um mundo de ilusões. Houve a roda notívaga do RANCHO FUNDO, roda de boêmios inteligentes e divertidos, na qual aparecia Aldenor Guimarães cantando as canções da época e interpretando, de preferência, os versos que o poeta escrevia e Waldemar Henri– que musicava. Quanto aos companheiros mais afetuosos, êstes ali se reuniam para escutar os violões, as modinhas, os madrigais, as estrofes dos trovadores sentimentais da cidade enluarada, em serenatas românticas, ao claro luar tropical, que deliciavam o poeta. Estas tertúlias, recorda ainda Bruno de Menezes, eram também assistidas pelos merceeiros da re– dondeza, que concorriam espontâneamente para a satisfação àos seresteiros com o saboroso chôpe paraense e outras bebi– das inocentes e picantes ... Muitas vêzes os seresteiros, completamente absorvidos pe– lo prazer da noitada, toldados os pensamentos, embriagados de luz, viram a lua mergulhar numa colcha de nuvens, tombar para o poente, a madrugada nascer. Só então deixavam o poeta, feliz e insone, tangendo pelas ruas os seus violões. * Nas noites de São João e Natal, Otilio Tavernard reunia a garotada pobre do bairro, distribuindo pistolas douradas e brinquedos, assistindo, Tony, da janela do seu RANCHO FUN– DO, a festa dos guris. Era ali que com seus amigos discutia literatura, problemas de arte, da vida e da sociedade paraen– se, assuntos em que o poeta se informava com interesse. As se– renatas eram freqüentes. O violão, nessas tertúlias, t_inha - 122 -

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