Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Morrer assim, numa manhã tão linda, risonha, rosicler, não é morrer. . . E' adormecer ainda na doce tepidez de um seio de mulher! . .. Não é morrer. . . E' só fechar os olhos para melhor sentir o cheiro do jasmin escondido da renda nos refolhos! . .. Ah! quem me dera que eu morresse assim! ... " O estado físico e mental do poeta, sua angústia perma– :rnente e sentida, é denunciado na primeira indagação da úL~ TIMA CARTA: "Por que não me vens ver? Estou doente ... ", em que sua alma dorida se transporta e procura, na imaginá– ria missivista, aquela ausente amada, para que esta envolva, na concha de suas mãos, sua própria alma, quando ela se li– bertar, pois anuncia aí uma certeza de morte: "Vem surgindo e luar ... / E com a luz do luar que vem nascendo / Eu vou, aos poucos, meu amor, morrendo . . " Longe, pois, definitivamente, estaria o poeta da realidade da vida e fechado na sua imensa angústia, pássaro ferido em pleno vôo, como declara no poema "Sob as brumas, em sur– dina": "Êste meu coração inquieto, dorido, que aqui vai a vibrar, como se fôsse um pássaro ferido , morrendo em pleno vôo, a cantar, a cantar .. . " Foram grandes inibições, reveladas a cada passo, que o tornaram angustiado. Antônio Tavernard, no intimo de si mesmo, na sua juventude despreocupada, fôra, na verda– de, um homem alegre e feliz . Teve um pai dado às letras e a mãe fôra também um espírito sensível e inteligente. o drama de sua atormentada vida, que o afogou num isola– mento forçado , impondo-lhe estas severas inibições, transfor– mou-o enfim de idealista e sonhador num anacoreta. Olhou r:mtão, através da janela do seu "Rancho Fundo" - janela aberta para a vida e para a alegria, - as ruas de sua ci– dade , as praças do povo, o céu do condor. Contemplativa– mente . DO AMOR PARA SEMPRE IMPOSSíVEL Oferece a poesia de Antônio Tavernard, oportu– nidade para interpretações psicológicas que muito ajudarão a compreender sua personalidade. Colhido pela doença n o pleno viço de suas faculdades genésicas, excluído brusca– mente do meio social quando mal ingressava no curso aca- - 116 - "I

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