Revista da Academia Paraense de Letras 1961
,. - r .... .. • dezoito anos ao "Rancho Fundo", pequeno "chalet" erguido no quintal da casa de seus pais, na Avenida Conselheiro Fur– tado, à época em que. superiormente confiante em Deus, re– conheceu a desgraça do seu destino de moço, ali iluminado pelos conselhos e pelos carinhos de sua mãe, tôda ternura e desvêlo, escreveu as mais belas páginas da literatura ama– zônica. as mais autênticamente amazônicas, vazadas num es– 'tilo pessoal e de grande plasticidade. Páginas que fixam pai– sagens do nor te e contêm elementos que revelavam, nêle, um verdadeiro épico, à semelhança de Castro Alves, admitin– do para êste a vocação épica que , por não se ter realizado ple– namente, restringimos ao que se chamou "condoreirismo". A .poesia de Tavernard atinge momentos de alta inspiração, contando grande variedadP de contornos, paisagens e rítmos, como no poema "A Voz da. Amazônia", que, todavia, não che– ga a emparelhar com "Navio Negreiro" ou "Cachoeira de Paulo Afonso" , melhor exemplificando, de Castro Alves. Ali está êle, transfigurado, oprimido não pelas angústias físicas , mas pelo próprio complexo amazônico, dinâmico e tumultua– do, plácido e brutal. Exalta-se, porém a sua inspiração numa verdadeira afirmação telúrica. O homem se revela poeta que amadurecia cheio de angústia e enlêvos e ternuras nunca provados em pequenas obras-primas de poesia intimista, di– ferente mesmo do poeta que ansiava, exclamando no "Pór– tico" do seu livro de contos: Eu quisera, em meus versos, a alvorada de tôdas as belezas triunfais ... que êles tivessem a auréola imaculada do sol da madrugada . .. ", etc. e que , afinal, se transformou numa tênue incapacidade de alcançar tudo, não resistir ao nada, compondo baladas tris– t es como a "última Carta", "Sob as brumas, em Surdina" ou "Sonhos de Sol". Nesta, especialmente, revela o desencanto : "Nesta manhã tão clara é sacrilégio o se pensar na morte. No entanto é no que penso, húmidos de pranto os meus olhos cansados. Sortilégio de luz pela cidade .. . As casas tôdas, humildes e branquinhas, lembram grácis e tímidas mocinhas no dia de suas bôdas . . . - 115 -
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