Revista da Academia Paraense de Letras 1961
1 ,. tém as seguintes palavras: "Eis a narrativa, leitor, que pela comissão julgadora do nosso Concurso de Contos Trágicos foi distinguida com o segundo prêmio. Encadeada com a mais sá– bia maestria ; descrita com a facilidade mais perfeita e magis– tralmente orientada, a sua leitura prende a atenção do leitor desde o início pelas inúmeras surpresas que o autor soube tão cem concatenar, surpresas essas que se nos deparam pelo de– correr da leitura e em cujo final , vemos um desfêcho fantásti– camente original e maravilhoso". Iniciava-se, com êsse conto, adolescente, a carreira de Antônio Tavernard, e sua breve e fecunda fase de escritor e poeta dotado de uma forte persona– Jídade. Manifestava-se também como o poeta e escritor mais original de sua geração, atraído pelos assl!,ntos menos explo– rados , interpretando-os de maneira mais surpreendente. Mui– to cêdo familiarizado com a técnica do conto trágico e fantâs– tico, através de uma leitura desenfreada dos livros de literatu– ra gênero policial (a revista "Primeira", de que foi leitor assí– duo, era especializada nesse gênero), tornou-se logo, na sua idade e na sua época, um dos raros escritores brasileiros a cul– tivá-lo com algum êxito. Ampliando suas atividades, conse– guiu publicar em numerosas outras revistas nacionais as suas produções. Seu estílo, vivo, original, interessante, dosava bem e com bastante habilidadP as proporções do gênero. Sabendo inventar "suspense" , sustentar a dominante trágica, armar ce– nários e cruzar elementos que , em sucessão, chegariam à sin– tese desejada, tornou-se escritor precocemente amadurecido, esplêndidamente dotado e fecundo. Uma de suas produções, o conto "O Justiceiro", publicado em 1930 no livro "Fêmea", foi "vergonhosamente plagiado na metrópole". O contista Antônio Tavernard é todavia menos forte do que o poeta. O escritor , embora essencialmente humano, não pôde superar a si mesmo, ao seu destino trágico, que muito in– fluiu o seu comportamento literário. Já, o poeta, não poucas vt>zes, viveu plenamente em estado de graça, mesmo dentro de sua condição humana. Assim é que, o contista, foi êle mesmo dentro dos seus personagens: homem sofredor, cheio de angústias e apreen– sões, nada mais enchergando além da sua morbidez : "A angústia caracteriza as almas tropicais : Angústia em eclosão: desespêro. Angústia tácita: inquietude . .. " Exacerbou, portanto, através de generalizações, sentimen– tos exclusivamente seus, individuais, pois, não há dúvida , tal como se manifesta, obsedantemen t e, essa angústia em eclosão é um reflexo condicionado em potencial, a r ecalques oriun– dos da debilidade física do poeta . - 113 -
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