Revista da Academia Paraense de Letras 1961

,.. i- 1 sa alma como uma carícia, deixando o éco da saudade. Com– põe com inaudita facilidade. Tenho mesmo a - impressão de que lhe basta correr os olhos pelo teclado para que o motivo procurado cresça e se desenvolva, espontâneo, justo, tradu– ção em . sons do seu pensamento. Sôbre o joelho, improvi– sando o assobio, êle escreveu a maior parte da partitura de uma peça minha para versos já feitos, sem que eu lhe ex– plicasse como· queria, produzindo sempre melhor do que eu desejava" . · A história do compf)sitor, depois dessa crônica intitula– da "Pássaro.:Oesconhecido" e dos sucessos alcançados nà Pa– rá, é um capítulo importante da criação artística brasileira. Antônio Tavernard, ascendendo também ao âmbito lo– cal, não teve a mesma repercussão nacional, como poeta dP. raça que foi, embora acompanhe, definitivamente preso, a música do seu conterrâneo. Foi o mais feliz dos seus letristas e êstes versos musicados com tanta felicidade estão na me– ~nória do povo ·brasileiro. E' uma poesia singular, talvez exó– tica, bem representativa da Amazônia. O poeta, algumas vê– zes - ou sempre que abordava assuntos amazônicos - con– seguiu im,primir cenas e aspectos de um Brasil diferente. Então, pressentimos que êle escreveria o grande poema da . Amazônia, pois, nesses momentos, não fica muito longe de :3aul Bopp, o famoso criador de "Cobra Norato". E mais ain– d2 do que Raul Bopp, Tavernard foi um produto espontâneo da Amazônia. Viveu profundamente os seus problemas; não os observou com a emoção do esteta que acordou subitamen– te num reino de fadas ou num mundo fantástico. O presente trabalho, elaborado no momento do transcur– w do cinquentenário do nascimento de Antônio Tavernard, pretende compreender a sua personalidade e a sua obra. "NASCI EM FRENTE AO MAR" Antônio Nazaré Frazão Tavernard nasceu no dia 10 de outubro de 1908, há cinqüenta anos portanto, na então vila de Pinheiro - hoje Icoarací - no município de Belém. Nas– ceu "em frente ao mar", disse êle próprio no poema "Similitu– des", que é um ligeiro esbôço auto-biográfico: "Nasci em frente ao mar. Meu primeiro vagido misturou-se ao fragor do seu bramido. Tenho a vida do mar! Tenho a alma do mar! ... " O mar, portanto, "na sua inquietude indefinível, que nêle é onda" e, para o poeta, por similitude, apenas um "anseio", - 111 -

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