Revista da Academia Paraense de Letras 1961
sileira - tão variada de região para região e tão intimamente unida por um sentimento nacional assás profundo. Se é certo que a canção do sul se distingue, por um rítmo e uma inflexão peculiar, da canção do norte e uma e outra da nordestina ou do Brasil central, todos nós sentimos, entretanto, diante do nosso cancioneiro popular, a mesma emoção, a unidade da raça. Na música de Waldemar Henrique há todo um congestio– namento de beleza sonora que se traduz de imediato na lem– brança de lendas. entidades fantásticas, aS"J)ectos típicos da Amazônia. Não fôsse êle próprio um grande poeta, cujos ver– sos de uma única canção - "Tamba-Tajá" - p•odem reser– var-lhe uma glória imorredoura, Waldemar Henrique, quando ainda em Belém, trabalhando em audições musicais e escre– vendo programas para o Rádio Clube, teve a fortuna de des– cobrir na obra de um jovem e desditoso poeta um sentimen– to que se fundia e se integrava indelevelmente à sua músi– ca. A obra dêsse poeta adolescente tinha rítmo , originalidade, o ranço de sua terra. :l!:sse poeta era Antônio Tavernard. Contemporâneos, quase da mesma idade, ambos se apro– ximaram atraídos pelo talento, revelando-se mutua.mente. Ambos tinham o umbigo plantado no solo paraense e si– multâneamente se dedicavam à sagração da Amazônia com a avidez ou angústia que "caracteriza as almas tropicais". A imagem telúrica da poesia de Antônio Tavernard foi assim naturalmente absorvida pela música de Waldemar Henrique. O encontro dos dois jovens artistas seria inevitá– vel. E ~ forte personalidade do poeta produziria no músico, que até então improvisava canções e valsas românticas no seu piano, um efeito singular. E Waldemar Henrique volun– tàriamente imprimiu nas suas toadas e canções, com intensa nítidez, o pensamento do poeta, popularizando-o com peque– nas jóias musicais que hoje são cantadas pelos nossos mais ~minentes intérpretes de música de câmara e irradiadas, qua– se diàriamente, pelas emissoras radiofônicas de todo O país -·- como "Foi bôto, Sinhá! " , "Matinta perera" "Curupira"' A ' ' "Tem pena da nega", "Quando a saudade acorda" "Roman- " t ' ce , e c.. O compositor ainda estava em Belém quando se aproxi– mou da poesia de Antônio Tavernard e os dois traçaram jun– tos um programa em que a Amazônia. na música e na poesia ganha pela primeira vez uma concessão de talentos r ealment~ notáveis. O próprio Tavernard contaria, numa crônica publi– cada na revista "A Semana" (29 de julho de 1933) , como tra– balharam juntos e exalta a · obra e a personalidade ·do com– positor : "Waldemar Henrique dominou a música leve apa– nhou o segredo das harmonias ligeiras que passam pel~ nos- - 110 ·- l J •
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