Revista da Academia Paraense de Letras 1961
, Urge, senhoras e senhores, que eu conclua, antes que vos tenha desastradamente fatigado. Cuido seria audácia prolongar êste monólogo do premia– do. Audácia e risco. Risco, por me confiar na palavra, êste frágil e volúvel instrumento. Já o cura de BERNANOS escrevia no seu diá– rio : "Uma das mais incompreensíveis desgraças dos ho– mens está em que devem confiar o que há de mais precioso a essa coisa, meu Deus, tão instável, tão plástica - a palavra! Seria preciso muita coragem para verificar, a cada instante, a chave a adaptá-la à sua própria fechadura. A gente prefere apanhar a primeira que nos cai sob as mãos, forçá-la um pouco e, se a lingueta funciona, nada mais se pede" .. . E audácia porque, a divagar sôbre literatura numa as– sembléia de literatos consagrados, a minha posição devera ser a de constrangimento, quase como a daquêle cônego, co– mensal da segunda mesa do Bispo de Séez, que ANATOLE FRANCE satiriza na "ROTISSERIE DE LA REINE PEDAU– QUE": "Estando o cônego em artigos de morte, foi vê-lo o bispo: -Ai de mim! - suspirou o agonizante angustia– do - Peço-lhe desculpas por ser obrigado a morrer diante de Vossa Grandeza. - Pois não, pois não! Não se constranja, respondeu o Bispo, com bondade. · Concedei, finalmente , senhores, que eu vos agradeça, ainda uma vez, a generosidade do prêmio que me conferistes. Ao expressar-vos o meu reconhecimento e a minha gra– tidão gostaria, se não fôra o mêdó de parecer ridículo, de confessar-vos que, guardadas as indispensáveis proporções, recolho a recompensa como o fez WILLIAM FAULKNER com o prêmio NOBEL: sem dêle considerar -se dono, mas o depositário, pronto a passá-lo adiante, a mais hábeis mãos ou a mãos mais jóvens . Muito obrigado! - 108 - • J ,,.
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