Revista da Academia Paraense de Letras 1961

Na sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, ,Toaquim Nabuco afirmou, com sobejas razões, que "a obra de quase todos os grandes escritores resume-se em algumas páginas : ser um grande escritor - acentuou Nabuco - é ter uma nota distinta - e uma nota ouve-se logo". E' justamente o que vem de ocorrer com Jarbas Passari– nho, que terá a partir de hoje, o seu nome falado em todo • o Brasil, como mais um escritor da Amazônia, que fala da Amazônia, que descreve a Amazônia e os seus dramas sociais, com a coragem de um homem que coloca a inteligência a serviço da humanidade e a pureza de um conhecedor do ver– naculo, que não força a pena para ser útil à cultura brasileira. Mário de Andrade, ao saudar Antoni~ Austregésilo, na Casa de Machado de Assis, a 13 de dezembro de 1918, disse que "há tanta maneira de ser escritor fora dos gêneros clás– sicos". E completou : "A submissão aos gêneros, ao contrário, tem transviado e malgrado muito talento". Fugindo o quanto pôde ao clássico do romance, Jarbas Passarinho escreveu e viu laureada uma obra - TERRA ENCHARCADA , seu romance - que , como "A Selva", do notável Ferreira de Castro, terá de ser lida sempre, para que melhor se possa compreender e resolver o drama de explo– ração completa e inominável em que o seringueiro da Ama– zônia vive - ou vegeta, sofrendo sem poder ou sem saber fazer ecoar as suas necessidades prementes e a sua miséria definitiva e inapelável, por ignorar, sem dúvida, pela ausência cte escolas, os mais elementares e ·primaríssimos direitos que a Vida e Deus concedem aos homens antes das legislações tra– balhistas. TERRA ENCHARCADA, seu romance laureado, escrito originalmente por Jarbas Passarinho, em 1948, quando Te– nente Instrutor da Academia Militar, e agora ligeiramente alterado para concorrer ao prêmio "Samuel Wallace Mac– Dowell" de 1959, TERRA ENCHARCADA, como bem desta– cou , com sua sua autoridade de sacerdote culto, de homem de letras completo e erudito, o Cônego Apio Campos, é "a reação dêsses dois seres humanos - explorador e explorado - cada um em um plano diferente - diante da degradação e da miséria. Reação que é, antes de tudo, um grito ·de pro– t esto contr a a sociedade, contra a indiferença dos poderes públicos, contra a corrupção e o poder dos grupos plutocra– t as. Não é uma história humana - afirma o ilustre sacerdote e escritor - é a história de uma sociedade que se enormiza no crime e se acumplicia com a natureza no esmagamento do homem". Receba, J arbas Passarinho, com est as palavras simples e sinceras, escritas com o entusiasmo do seu contemporâneo - 102 - ...,,,. 1

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