Revista da Academia Paraense de Letras 1961
cândalo, adulterador da verdade, para destruir em vez de construir, vontade de ser jornalista para colocar a verdade a serviço do bem público, sem corrupção e sem abusar do di– reito da liberdade, como tanto ocorre nos nossos dias, para a própria desmoralização da liberdade de pensar e de dizer. o que mais, na verdade, àquela época me interessava e cons– tituía mesmo sonhos altos de minhas noites de vigília no po– rão da casa do Hernani Genu, onde eu, Carlos Lima, Leonel Aragão, Mário Flexa Ribeiro e Odorico Kós Filho, estudava– mos, era escapar do tremendo zero nas provas parciais de Latim, matéria regída pelo saudoso mestre e eminente poeta Hemígio Fernandez, sempre barulhento nas suas descompas– sadas e anti-acadêmicas descomposturas em todos os alunos, mas sempre um intransigente defensor dos ideais da moci– dade, que êle iluminava com o seu talento de escól e afagava com o seu coração de ouro, e procurar resolver certo os tre– mendos problemas de matemática que o silêncio ameaçador e eterno do professor Augusto Serra, registrava no imenso quadro negro da sala de aula. Jarbas Passarinho que pretendia àquela época? Não sei. Pensaria em ser escritor, e um escritor que ao se revelar, ao aparecer, vai logo conquistando a mais alta laurea que o Estado confere aos valores intelectuais da terra? Não sei. Já sonhava em sel' militar, em traçar planos de combate e exigir discíplina na caserna e uniformidade rigorosa na ordem uni– da, com o RDE e o Risgue à mão, ameaçando inapelàvelmen– te a liberdade do pracinha, que não se esquece nunca que voltará a ser paisano? Também não sei . A vida, na juventude e nos primeiros anos de mocida– de, nunca nos dá o direito - e nós mesmos não cogitamos dêle - de demorarmos pensamentos, nem alimentarmos ilu– sões quanto ao futuro e o destino. Interessa-nos, então, viver o minuto que passa, e dêle não perder a menor parcela de um unico segundo. Mas a vida mesmo nos ensina, nos encami– nha, nos encoraja nos sofrimentos e nas glórias tão rápidas que a gente não pode gravar a cor e nem sentir o perfume da felicidade. O que queriamas, eu e Jarbas, e os outros de nossa épo– ca? Viver. Viver para honrar nossa geração, para engran– decê-la, se não pelo espírito, pelo menos pelo trabalho digno e honesto. Tivemos - e creio que todos os de nossa geração, com raríssimas exceções impostas pela inexorabilidade dos des– tinos - tivemos eu e êle a suprema ventura de fazer as duas coisas, cada um no seu setor de atividade humana. Honramos os nossos nomes, soubemos fazê-los, honramos e preservamos de apôdos e fracassos o nome de nossos pais - 100 - • • • ..
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