Revista da Academia Paraense de Letras 1961
• • ... • mentar-lhe a produtividade ou dirigi-lo par a o maior bem do Estado ,ou da Raça, ou seja lá do que fôr , sempre resultaram em fracasso, porque part iram de uma falsidade ou de um desconhecimento da natureza humana em sua mais autêntica dimensão. O homem é vário e inesperado, e não podemos di– rigir em princípio o bitalamento de suas atividades pelas ne– cessidades circunstanciais que o rodeiam. E' possível que, em determinadas aplicações práticas, êsse bitalamento possa t er validade pr ovisória, mas nunca poderá ser promovido a princípio de validade permanente e universal. Há sempre que respeitar essa barreira do individual, do vocacional,. da rea– lização pessoal e intransponível. Esse é também um direito rngrado da pessoa humana, que deve entrar, em primeiro plano, em tôdas as linhas de reivindicações sociais: o do ho– mem realizar-se a si mesmo, sem interferências indevidas e sem pressões do exterior. Não é porque, num determinado lugar, se precisa de médicos, que cada indivíduo deve sen– t ir-se na obrigação de estudar a medicina. E se alguém não seguiu a medicina, porque nela não sentiu a sua realização pessoal, não deve nem pode ser incriminado de omissão pe– las mortes que continuam a ocorrer, por falta de médico. Os casos concretos têm nuances, que não podemos anali– sar em linhas gerais, mas será sempre verdade que as neces– sidades circunstanciais não podem ultrapassar as fronte iras do vocacional nem jamais violentar o direito e a liberdade que tem o homem de se realizar integralmente, em quadros de natureza pessoal. · O ASPECTO vocacional tem de comparecer, como pri– meiro critério de julgamento, perante aquêles que preten– dem inquirir da literatura - como das artes em geral - qual o seu valor utilitário ou sua pragmática social. O vocaciona– mento literário e artístico dos indivíduos em espécie deve ser r espeitado e d€fendido , por não ~e tratar apenas de um dado circunstancial dentro de uma sociedade e muito menos de uma fixação a quadros de atividades ultrapassadas . O artis– ta - e principalmente o artista da palavra - sempre teve reconhecida e valorizada a dignidade de sua arte, em tôdas as sociedades e em todos os tempos. No seio de agrupamentos comunitários primitivos. que se esforçavam por superar um estágio de semi-civilização, a palavra em geral - ao lado da palavra elevada a um n ível estético - foi sern!Pre elemento importantíssimo de solidariedade social e de aproximação en– tre os homens . E' possível que , em nossos dias , quando mais se desen– tendem os membros da comunidade humana e quando a lin– guagem da violencia parece ser a única resposta do homem dito civilizado aos seus permanentes e insolúveis conflitos - 95 -
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